Nota: nessa avaliação, não tive como evitar inúmeras referências ao que era meu antigo in-ear customizado de referência, o JH13 Pro, que tive por muito tempo e avaliei. É necessário ter em mente que minha versão não era das mais atuais, equipadas com a tecnologia Freqphase. Portanto, minhas impressões aqui não dizem respeito à versão atual do JH13 Pro.
INTRODUÇÃO
Os que leram minha última postagem – e os que acompanham o fórum – sabem que estou tendo algumas semanas um tanto interessantes: Além de finalmente ter recebido meu JH Audio Roxanne, estou passando um tempo com o novo topo de linha da Unique Melody, o Mentor. Trata-se de um intra-auricular de dez armaduras balanceadas por ouvido: quatro para graves, duas específicas para médios, duas para médios e agudos e duas específicas para agudos, coordenadas por um crossover de 4 vias. Ele pode vir tanto numa versão universal, que sai a R$3.375 reais, quando numa customizada, por R$4.100.
Não é mistério que eu (e praticamente toda a comunidade audiófila) sou fã de monitores customizados devido ao altíssimo nível de desempenho que pode ser obtido deles, sem a necessidade de equipamentos associados impressionantes e a um custo relativamente acessível – se comparado a fones full-size.
Em compensação, não fico tão convencido com universais nessa faixa de preço. Afinal, nenhum fone desse tipo que ouvi teve poucas falhas, e já ouvi muitos. O Sennheiser IE800, para os que não leram a avaliação que publiquei, me deixou um pouco desapontado e convencido de que ele não valia o valor pedido. Quando tinha o JH13 Pro, achava que ele valia cada centavo. O JH5 Pro que ouvi não foi diferente.
Vale lembrar, também, que parece um consenso que monitores universais não conseguem atingir o desempenho de seus irmãos personalizados – ainda que estejamos falando dos mesmos componentes, parece que a organização deles pode ser mais trabalhada na versão sob medida.
Por isso, confesso que eu estava muito curioso para ver como se comportava esse universal monstro de 10 alto-falantes por ouvido.
ASPECTOS FÍSICOS
Desnecessário dizer que não posso falar muito sobre a versão customizada do Mentor – tanto por não ter acesso a ela quanto pelo fato de isso depender do cliente. O que posso dizer é que fiquei muito impressionado com os customs da UM que já vi. O acabamento em geral é muito bom, e a qualidade da arte das faceplates é fantástica. Eles possuem, inclusive, inserts que, se não são realmente de metal, parecem muito.
Quanto ao universal, não me impressionei tanto. Achei que o acrílico, da maneira usada, transmite um aspecto consideravelmente simples, e o cabo não ajuda. Ele é inteiro em quatro condutores, o que é bom (já que o Mentor pode se tornar balanceado apenas com uma reterminação do cabo original), mas não há nem um divisor Y propriamente dito – apenas um tubinho de plástico termoretrátil. Ninguém vai imaginar que você está andando com mais de 3 mil reais no ouvido, pode ter certeza. Mas, pensando bem, isso no Rio de Janeiro é muito positivo.
Em compensação, gosto da qualidade do logo da UM impresso no faceplate – é o tipo da coisa com a qual a JH Audio só pode sonhar – e do bocal de metal. Mas a grande redenção vem no conforto. Estou tendo alguns problemas de encaixe com o Roxanne, e colocar o Mentor depois é um alívio sem tamanho. Ele é excepcionalmente confortável, principalmente com as ponteiras de espuma da Comply. Parece que não tenho nada nos ouvidos. O encaixe é superficial, e consequentemente o isolamento não é dos maiores, mas algo que eu troco pelo maior conforto quantas vezes forem necessárias. Sei, porém, que alguns prefeririam se isolar ainda mais do mundo exterior.
A embalagem é bem interessante, e parece trazer alguns conceitos da Apple. É muito simples e compacta (diferente das mais antigas, que eram complexas e luxuosas), mas ao mesmo tempo completa. Há uma caixinha com cinco pares de ponteiras de borracha, três de espuma, uma pequena flanela para limpeza e uma plaquinha com o número de série, a data de fabricação e o tempo de garantia. Embaixo, vemos a caixinha para transporte. É um cilindro de metal bem espesso, que certamente aguentaria um caminhão passando por cima. Gostei muito.
O SOM
Minha primeira impressão com o Mentor é que ele não apresenta uma sonoridade radicalmente diferente da do JH13 Pro. O equilíbrio tonal é parecido, apesar de a apresentação ser mais aberta e ele e parecer um pouco mais contido. Ou seja: temos aqui uma sonoridade típica de monitores profissionais, cheia, energética e adequada a qualquer gênero musica.
Começando pelos graves: em termos de presença, definitivamente não tenho do que falar. O Mentor atinge o equilíbrio perfeito entre naturalidade e divertimento. Não é um fone com graves pesados e nem com graves leves. Realmente não tenho o que dizer. Nesse quesito, não consigo não me lembrar do JH13 Pro – os dois são realmente parecidos. No entanto, vale dizer que aqueles que estiverem buscando o desempenho do JH16 Pro não devem olhar para o Mentor. Os graves estão, na minha opinião, no ponto, e não além dele
Quanto à qualidade, mais uma vez só tenho elogios. Há autoridade, peso e vigor, mas sem qualquer efeito colateral na texturização e definição, que são excelentes. Há uma belíssima combinação entre definição e gordura. A extensão é típica de múltiplos BAs, ou seja, excelente. As oitavas mais baixas são atingidas sem dificuldades.
Nos médios, as diferenças em relação ao JH13 começam a aparecer. O Unique Melody parece estar mais focado em frequências médias um pouco acima do foco do JH13 Pro. O efeito é simples: este soa mais fechado, com mais corpo, e aquele mais aberto e arejado. Escolher entre uma interpretação e outra é, em minha opinião, questão de gosto.
Acho que o JH13 é mais adequado para rock, já que há mais punch, mas em gêneros que se beneficiem de uma apresentação mais aberta, o Mentor certamente será mais indicado. Isso não significa que ele não seja bom para rock – muito pelo contrário. Ainda tenho o efeito sensacional da “parede de som” que o JH13 Pro e o Merlin me fornecem. Nesse gênero, isso é absolutamente incrível. Uma banda da qual gosto muito, Chevelle, lançou recentemente um novo single, Take Out The Gunman. Ouvir toda a energia e o impacto do Mentor no refrão mostra bem o que quero dizer: é realmente sensacional.
Uma das coisas que mais me impressionava no JH13 Pro era a dinâmica – a capacidade de mostrar sons muito pequenos e tímidos e enormes paredes quando necessário, com toda a variação de tamanho que isso implica. Ou seja, sem falsa expansão ou indevida compressão. Os tamanhos parecem reais e dependentes da música. O Mentor não fica para trás e é capaz de me impressionar da mesma forma.
O que mais me encanta, no entanto, é que, ao mesmo tempo, há uma grande doçura no que esse fone me mostra nos médios… não sei explicar, mas é uma característica de certa forma aveludada, que faz com que vozes (femininas, em particular) fiquem extremamente sedutoras quando são o centro das atenções. Mais uma vez, o Mentor encanta pela combinação: mas aqui, é de suavidade e transparência.
Por falar em transparência, nesse quesito, o Mentor é extremamente competente. Uma das coisas que estava começando a me incomodar no JH13 Pro – e que me fez partir para o Roxanne – foi justamente sentir falta da última gota de transparência e resolução. Esses aspectos não eram ruins, longe disso, mas nos últimos tempos comecei a ficar mais ciente das suas limitações. O Mentor é consideravelmente mais capaz que o JH13 Pro nessas características. A sonoridade é mais transparente, e quem também sai ganhando é o detalhamento. Me lembro do JH Audio ser um pouco mais borrado, de certa forma.
Entretanto, isso não significa que a espacialidade seja particularmente impressionante. Ela é boa, e o Mentor possui grande precisão no posicionamento dos instrumentos. Ao mesmo tempo, in-ears simplesmente não são capazes de mostrar um espaço particularmente grande, com sons vindo de fora da cabeça, e o Mentor não é diferente. Esse tipo de fone simplesmente não é capaz de projetar uma imagem expansiva e convincente.
Uma outra questão que me incomoda um pouco é algo que, após algum tempo, comecei a identificar como característica intrínseca às armaduras balanceadas. Todos os fones que já ouvi que utilizam essa tecnologia parecem apresentar um timbre levemente plástico nos médios… é algo que não consigo explicar bem, mas a sensação é essa, de que não é algo totalmente orgânico. O único fone com BAs que não me apresentou essa característica até hoje foi o Roxanne. Vale observar, no entanto, que não é uma característica que incomode muito. É uma coisa muito sutil, com a qual me acostumo em pouco tempo, e praticamente paro de ouvir.
Estranhamente, o melhor do Mentor, na minha opinião, não vem nem nos graves e nem nos médios, e sim nos agudos. Mais uma vez, a palavra que me vem à cabeça é combinação: nesse caso, de doçura e definição. Poucas vezes vi fones que são capazes de aliar tamanha sedução e transparência no desempenho nos agudos. Não tenho medo em afirmar que os agudos do Mentor estão, provavelmente, entre os cinco melhores que já ouvi até hoje. Possuem corpo, timbre, definição, transparência, extensão e imensa doçura. Com gravações que favorecem essa característica, como bons álbuns de jazz, fico realmente encantado com o que ouço do Mentor.
CONCLUSÕES
Estou seriamente impressionado com o que ouvi do Mentor. Acho que ficou bem claro que o JH13 Pro perdeu a coroa. A questão é que o topo de linha da Unique Melody não oferece nada radicalmente diferente, mas parece trazer pequenos refinamentos em inúmeras áreas. Ele pega o que tanto gosto no JH13 Pro e melhora um pouco.
A única parte em que isso não é tão simples, e esbarra numa questão de preferência, é nos médios. Eles são mais abertos e mais focados em regiões um pouco mais altas – isso pode ser desejável para alguns, mas indesejável para outros. Mas nos graves, nos agudos e em questões como transparência e resolução, realmente considero o Mentor superior. Isso fica ainda mais impressionante quando penso que estou ouvindo uma versão universal, que pode ser compartilhada e revendida e é excepcionalmente confortável.
Portanto, não tenho receios em esquecer o aspecto simplório, por bons motivos: estamos falando não só de um dos melhores in-ears em fabricação atualmente, mas também provavelmente de um dos melhores fones de ouvido que já ouvi.
Unique Melody Mentor – R$3.375,00 universal / R$4.100,00 customizado
- 10 armaduras balanceadas/crossover de 4 vias
- Impedância (1kHz): 20 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 112 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 20Hz – 20kHz
Equipamentos Associados
Portáteis: iPod Classic, FiiO X3
Mesa: iMac, Abrahamsen V6.0, HeadAmp GS-X, B.M.C PureDAC