INTRODUÇÃO
A HiFiMAN é uma das marcas com a ascenção mais rápida que já vi até hoje. É de um chinês, residente em Nova Iorque, que resolveu aliar seu conhecimento com as facilidades de sua terra natal e acabou produzindo uma série de produtos que a definiu como uma das marcas mais interessantes do ramo.
Alguns dos melhores planar-magnéticos do mercado, o primeiro tocador portátil verdadeiramente high-end e seus sucessores, in-ears com uma belíssima relação custo-benefício, excelentes amplificadores… a HiFiMAN fez quase tudo. E, agora, decidiu entrar numa outra fatia do mercado: a dos full-sizes dinâmicos intermediários. Ou seja, ela tem uma missão ambiciosa pela frente: brigar com a horda de fones entre os 200 e os 300 dólares, o que inclui não só modelos já estabelecidos, como Sennheiser HD598, Shure SRH940 e Beyerdynamic DT770, mas também a recente leva de portáteis sofisticados que invadiu o mercado.
ASPECTOS FÍSICOS
Onde a HiFiMAN costuma deixar a desejar é na parte física dos fones. São todos iguais – fora a cor –, o que não traz muita diferenciação aos modelos, a pressão lateral é grande, os cabos são mais rígidos do que eu gostaria, o headband não é particularmente acolchoado, os ajustes são rudimentares e os pads são muito duros.
O HE300 é igual ao HE500 – que é igual ao HE-6 –, inclusive o cabo, mas ele possui uma grande vantagem: é dinâmico, e por isso, não possui o peso dos enormes ímãs do irmão maior. Isso é um alívio enorme, porque o HE500 é um fone muito pesado, algo que me incomoda bastante. Fora isso, tenho os mesmos elogios e as mesmas críticas.
Ou seja, é um fone que não vai ganhar nenhum concurso de beleza ou de primor no acabamento, mas faz seu trabalho com competência. Não é o ápice do conforto mas, ao contrário do HE500, também não é desconfortável.
Onde a economia é claramente visível é na caixa: enquanto os irmãos maiores vêm em caixas mais luxuosas ou resistentes cases para viagem, o HE300 é enviado numa (muito) simples caixa de papelão. Além disso, são inclusos apenas os pads de veludo e o plug do cabo é P2 com um adaptador, e não P10. Mas acho esses cortes de custo algo positivo: a HiFiMAN não está desperdiçando dinheiro em seu circunaural budget e, provavelmente, está se concentrando no que importa.
O SOM
O objetivo do HE300 não é fácil. Ele está entrando numa faixa de preço extremamente populada, por fones de diversos tipos, que atendem a vários gostos.
O HE300, numa primeira audição, deixa evidente que foi pelo caminho mais seguro, com uma personalidade muito quente e eufônica. É, de imediato, parecido com o HE500, mas mais extremo nessa personalidade comum aos dois.
A começar pelos graves: sensacionais. Não é comum encontrar fones dinâmicos abertos com graves tão interessantes. Em termos de presença, eles são parecidos com os do irmão maior, o que significa que vão além do que eu consideraria neutro. No entanto, é um incremento muito bem feito, em toda a região grave – não há o famoso bump nos médio-graves que se vê em muitos outros fones. Há impacto, força, textura, autoridade e tudo ao que se tem direito. É uma região excepcionalmente competente e bem definida para um fone de categorias até superiores à dele.
Não há, porém, o refinamento de fones como o AKG K702, que é mais comedido e correto. Um outro problema é que o HE300, mesmo com a modificação, ainda é demasiadamente escuro, e os graves algo exagerados aumentam essa sensação de escuridão e falta de definição no resto do espectro. Outra questão a ser notada é o fato de, por ser um alto falante dinâmico, ele não ter a extensão extrema do HE500. Em algumas músicas, como a Truant do Burial, nota-se que o fone mais sofisticado mantém um volume mais alto nas oitavas mais baixas, enquanto o HE300 começa a perder fôlego.
Veja, porém, que essas observações não são o suficiente para ofuscar as habilidades do HiFiMAN nessa região. Fiquei realmente surpreso com tamanha competência nos graves num circunaural aberto dessa faixa de preço.
Nos médios, ele mantém a personalidade doce do HE500, mas leva essa característica a um outro nível. A região é muito eufônica, doce e suave. O preço a se pagar fica na transparência: lembram-se do famoso “Sennheiser Veil”? É como muitos descrevem uma característica do HD650, que parece ter um véu entre o fone e os ouvidos o que significa que a apresentação é menos transparente. O HE300 parece ter um Sennheiser Veil de seda. É engraçado, porque nele essa característica me parece muito mais forte do que no próprio Sennheiser.
Consequentemente, é uma apresentação um pouco mais distante, e vai para um extremo que, na minha opinião, acaba soando um pouco exagerado. Não é uma eufonia como a de um W3000ANV, que parece colocar incrementos sofisticados em regiões muito específicas… é como se toda a região média estivesse encoberta. O Sennheiser HD600, em comparação, soa muito mais aberto e transparente, apesar de apresentar, em contrapartida, uma granulação muito evidente. Vale notar que essa característica, apesar de levar o HE300 para longe da neutralidade, pode representar o nirvana para alguns.
Essa falta de trânsparência significa, no entanto, que esse HiFiMAN também não é a opção mais espacial de sua categoria. Ele é decididamente mais fechado e, apesar de ser um fone aberto, não apresenta uma espacialidade tão convincente. Há a sensação de “respiro” de fones desse tipo, mas conheço diversas opções mais espaciais em sua faixa de preço – como o antigo Sony SA3000 e os Audio-Technica A900X.
O que de certa forma agrava essa situação são o que, na minha opinião, representam o maior problema desse HiFiMAN: os agudos. Infelizmente, não gostei do que ele me apresenta nessa região. Eles são muito recuados, o que não pode até não ser de todo mal – afinal, acho que o Grado HP1000 faz a mesma coisa, apesar de numa proporção muito menor. A questão é que, para mim, eles soam errados. Parecem estar presentes em regiões um pouco estranhas, o que os confere uma característica que de certa forma me lembra arquivos mp3 com uma compressão mais intensa. Não sei bem explicar, mas devo dizer que conheço agudos melhores nessa faixa de preço.
O recuo é feito, evidentemente, por opção – se não fosse, não haveria essa espuma entre o falante e os pads –, e não tenho dúvidas quanto ao fato de alguns gostarem muito desse tipo de assinatura. O que me incomoda, porém, é que a questão vai um pouco além disso. Acho, infelizmente, que falta um pouco de qualidade nas regiões mais altas em termos timbrísticos.
CONCLUSÕES
Minhas críticas negativas não são o suficiente para desmerecer o HiFiMAN HE300. Acho que o problema dessa avaliação é o fato de eu gostar – por uma questão de coerência – de começar pela base, os graves, e ir subindo até as regiões mais altas. Por isso, acabei começando com o melhor e indo até o pior, quando o ideal seria fazer o contrário.
O HE300 é um fone excelente, não só pelo que custa. Apresenta uma personalidade forte, que prioriza eufonia e doçura em detrimento de transparência. É uma personalidade que aprecio bastante em diversas situações – não é à toa que tenho um HE500 e encomendei um W3000ANV.
Na minha opinião, esse tipo de assinatura traz resultados no mínimo interessantes para qualquer gênero. Eu não conseguiria conviver apenas com um fone excessivamente frio, porque acho que eles são péssimos para uma vasta gama de estilos, mas fones mais quentes se dão bem com qualquer coisa – mesmo não sendo exatamente o ideal para alguns gêneros específicos. É o caso do HiFiMAN: rock, pop, eletrônica (principalmente), jazz, folk, clássico, rap, hip-hop… vai funcionar.
O HE300 tem todos os predicados para firmar os dois pés em sua categoria. Desconheço um fone em sua faixa de preço que traga graves tão competentes ou uma região média tão doce. Ele traz, basicamente, o som da casa da HiFiMAN por um preço muito acessível.
Se o que você busca é eufonia, o HE300 é audição obrigatória.
HiFiMAN HE300 – US$249,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 50 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 93 dB/mW
- Resposta de Frequências: 15Hz – 22kHz
Equipamentos Associados
Portáteis: iPod Classic, Sony PHA-1
Mesa: iMac, Abrahamsen V6.0, HeadAmp GS-X, Woo Audio WA3