INTRODUÇÃO
Há algum tempo pude avaliar três headsets (fones de ouvido com microfone embutido, voltados principalmente para o público gamer), incluindo dois modelos da germânica Sennheiser: o PC31 e o PC151. Gostei desse último em termos de qualidade de som, mas achei que fisicamente ele deixava muito a desejar.
Agora, tenho em mãos dois modelos mais sofisticados da linha G4ME da Sennheiser: o PC360 e o PC330. Será interessante ver como se comportam os headsets topo de linha da marca.
Assim como no comparativo de headsets anterior, meu objetivo não é avaliar o desempenho desses fones com jogos, e sim ver como eles se comportam com músicas. Dessa forma, os jogadores de plantão poderão escolher um fone que atendem às suas necessidades sem sacrificar o desempenho quando quiserem apenas ouvir uma boa música.
ASPECTOS FÍSICOS
No comparativo anterior, vi que o AKG GHS1 estava muito à frente dos dois Sennheisers em termos físicos: melhor conforto, melhor acabamento e estética muito melhor trabalhada.
Aqui, felizmente, parece que a marca botou seus designers para trabalhar e viu que o público gamer parece valorizar bastante a aparência dos fones. Ambos são, na minha opinião, fones muito bonitos, com detalhes muito bem pensados. São feitos inteiramente de plástico, mas ao contrário dos headsets mais simples, esse material é de muito boa qualidade.
O PC330 é o menor dos dois. É feito principalmente num plástico preto, com alguns detalhes prateados, que o tornam mais chamativo que o irmão maior. Ainda se classifica como um circunaural, mas dos menores, e os pads não circundam totalmente as orelhas. Tanto os pads quanto o headband, aliás, são bem acolchoados mas revestidos com uma pequena película relativamente frágil – nada de couro ou veludo – que um dia vai se esfarelar e fazer uma bela bagunça, o que na minha opinião é um problema. Além disso, a pressão exercida nas laterais é maior que eu gostaria. Consequentemente não é um fone particularmente confortável. Em compensação, o isolamento é bom. Outro problema parece ser o cabo, que não é removível e não está entre os mais robustos que já vi.
Em compensação, existem vários belos detalhes que servem para redimir as falhas: O microfone fica numa base rotativa no cup esquerdo, e pode ser recolhido, saindo da frente do rosto do usuário. Quando está para cima, aliás, entra automaticamente no mudo. Outra coisa interessante é que essa mesma peça que é a base para o microfone é, no ouvido direito, um botão de volume escondido! Gostei muito dessa sacada. Por último, há o fato desse cup ser rotativo, como em fones Djs, permitindo que apenas um lado dele seja ouvido.
O PC360 é mais maduro e bem mais discreto. Me parece – e é, como vocês verão mais à frente – um modelo da linha HD com um microfone. É bem maior – e consequentemente um verdadeiro circunaural –, aparenta ser melhor construído e é mais confortável. Os plásticos usados são mais sólidos, e tanto os pads quanto o headband são revestidos de veludo. O microfone faz o mesmo truque do PC330, entrando no mudo quando recolhido, e há também um botão de volume do lado direito, apesar de ele ser uma pequena rodinha mais tradicional. O cabo também é mais grosso e de melhor qualidade.
Uma observação interessante é que o PC360 é aberto, coisa rara no mundo dos fones gamers. Mostra que esse modelo está de fato preocupado com a qualidade de som. Isso significa, porém, que o isolamento é sacrificado, e sons externos serão ouvidos com nitidez.
O SOM
Comecei com o PC330 e bem… de imediato fiquei dividido. A sonoridade geral é cheia, com bastante massa e impacto. O problema é que há uma coloração muito forte, e ele definitivamente não engana: estou ouvindo um fone fechado.
Em termos de puro equilíbrio tonal tenho pouco do que reclamar: acho que há uma quantidade muito correta de todas as faixas de frequência (típico Sennheiser), mesmo com os graves claramente incrementados. É muito coerente. Esse é um ótimo sinal, porque para mim o mais importante num fone de ouvido é justamente o equilíbrio tonal. Não consigo apreciar outras características se ele não for minimamente aceitável ou natural, nem que seja em situações específicas. Nesse aspecto, o PC330 imediatamente se sai muito bem. A questão é que, passando nessa primeira etapa, alguns problemas começam a aparecer.
Os graves talvez sejam a melhor parte desse fone. Têm bastante força e ótima presença. Vão além do que eu consideraria neutro, mas é um incremento que me agradou bastante, principalmente por ser feito nas regiões certas: não ouço interferência significativa dos graves nos médios, o que, até onde sei, é importante para jogos – a apresentação é clara e não sofre de embolamento. É claro que não é um exemplo em definição – afinal estamos falando de um fone fechado de 100 dólares –, mas é perfeitamente aceitável e competente.
Os médios são o maior problema para mim, porque há uma coloração de concha (como se estivéssemos falando com a mão à frente da boca) muito forte. Consequentemente, eles soam comprimidos. Se esse problema fosse atenuado, eu consideraria o PC330 um excelente fone em sua faixa de preço. Mas, na minha opinião, é um defeito mais grave. Em algumas frequências, inclusive, parece haver um ponto de ressonância – provavelmente devido ao fone ser fechado – que pode incomodar.
É interessante observar, porém, que esse tipo de coloração acostuma. Numa primeira audição ele não me soa muito artificial, mas após algum tempo, pareço me aclimatizar. Não resolve o problema, mas o atenua. E o PC330 tem uma apresentação surpreendentemente espacial para um fone desse tipo. É claro que não soa aberto, mas há um palco sonoro bem razoável, com boa separação instrumental. Mais uma vez, é uma característica que acredito ser valorizada pelo público gamer.
Os agudos são aceitáveis, não chamando atenção nem para o bem e nem para o mal. Em termos de quantidade e presença são muito bons (só poderiam estar um pouco mais para a frente), mas são mais “finos” do que eu gostaria. Por isso, o timbre é bom mas não exemplar. A extensão também não me parece notável, mas é aceitável.
Trocando para o PC360, a situação muda – e muito. A sensação é a de que estou de fato ouvindo um fone da linha HD, o que se confirmou quando descobri que ele usa os mesmos alto-falantes do HD555 e HD595, fones dos quais gosto bastante.
Imediatamente, fica claro que estou ouvindo um fone aberto. Não há mais a forte coloração do pequeno gabinete fechado, e a apresentação me parece muito mais leve, natural e arejada que a do PC330. Porém, há um custo: há muito mais naturalidade, mas menos peso e autoridade. A apresentação é visivelmente mais leve.
É importante, porém, colocar esse fato em sua correta proporção: a Sennheiser, em sua linha HD – fora HD700 e HD800 – é conhecida pelo som mais fechado e velado, e com o PC360 não é diferente. Ele apenas soa muito mais aberto que o PC330, mas ainda é consideravelmente escuro e suave.
Os graves não têm o peso e a força do irmão menor, e são o que eu considero “tímidos”. Não há muito impacto ou peso, e para gêneros altamente dependentes de graves, como música eletrônica, pop ou hip-hop, ele deixa a desejar. Estou ouvindo a Truant, do Burial, e ouço que eles estão ali, mas definitivamente não trazem o peso que a música pede. Em compensação, em termos de definição, eles estão muito à frente das baixas frequências do PC330. Tudo o que acontece nos graves é perfeitamente audível.
Essa característica se mantém nos médios. Sem dúvida alguma estou ouvindo um primo do HD600 e, tenham certeza, esse é um elogio. Há uma mesma personalidade, para o bem e para o mal. Explico: os médios parecem ser o foco da apresentação, e apesar de não serem o cúmulo da transparência, são muito claros e abertos. Como já disse no comparativo do HD600 com o HD650, acho que apenas esse último merece o título de velado – aquele sempre me soou bem aberto, apesar de relativamente escuro. O PC360 está muito mais próximo do HD600 do que do HD650, e possui a mesma sensação de abertura e enorme capacidade de texturização nos médios. Eles parecem táteis, palpáveis.
Esse headset é extremamente competente nas regiões médias, e tanto vozes quanto guitarras, pianos e outros instrumentos que dependem de bons médios são muito bem tratados. Quiet Nights da Diana Krall mostra que esse fone é, sem dúvida alguma, de nível audiófilo.
Existem, no entanto, problemas: assim como no primo mais sofisticado, há considerável granulação nos médios, mostrando que estou ouvindo um alto-falante com certa idade. Não é nada grave, mas o som não me parece tão limpo quanto o de outros reprodutores mais atuais. É (ou era, à época) um preço a se pagar por tamanha clareza.
Em termos de espacialidade, o PC360 mostra que é um fone aberto, e mostra muito respiro e arejamento. Como o resto da linha HD – mais uma vez com exceção do HD700 e HD800 –, não há um palco sonoro incrivelmente desenvolvido ou extenso, mas instrumentos têm suas posições relativamente claras no espaço projetado.
Os agudos me deixam um pouco divido. Eles não apresentam o mesmo nível de refinamento do HD600, mas ao mesmo tempo não estão tão atrás assim. Em termos de timbre me parecem ótimos, apesar da mesma granulação que afeta os médios. O problema é que em gêneros como jazz com boas gravações que apresentam boa espacialidade e definição, os pratos me parecem perfeitamente renderizados e definidos, me lembrando muito o HD600 – um belíssimo elogio, visto que ele é um dos fones que mais gosto para agudos. Entretanto, com outros estilos, que apresentam gravações menos íntegras (como muitas de rock), eles apresentam grande indefinição, e isso me deixa bastante confuso. O que posso dizer com certeza é que em muitas situações, o PC360 é capaz de mostrar agudos extremamente competentes.
CONCLUSÕES
Foi interessante poder testar headsets um pouco mais pretensiosos. No comparativo anterior, tinha gostado apenas do PC151, mas o bom som poderia não ser o suficiente para convencer – afinal, esteticamente, ele é muito precário.
Com o PC330 e o PC360, felizmente, vejo uma situação bem diferente. Ambos – apesar de alguns problemas – são bons fones de ouvido.
O PC330 me parece o mais jovem, com uma estética mais elaborada e uma sonoridade que acompanha a proposta: graves cheios e com presença marcante. O equilíbrio tonal é muito competente, mas infelizmente os problemas de coloração nos médios me impedem de considerá-lo um fone muito bom, ao invés de simplesmente bom. Ao mesmo tempo, acho que se o objetivo é usar o fone primariamente para jogos, talvez ele seja a melhor escolha. Afinal, acredito que a experiência seja mais autoritária e imersiva.
Já o PC360 traz desempenho audiófilo para o mundo dos jogos. Não é tão chamativo esteticamente, mas por se tratar de um circunaural, é bem mais confortável. Em contrapartida, sendo aberto, não isola basicamente nada. Sua personalidade é muito mais aerada, natural e neutra do que a de seu irmão menor. O equilíbrio tonal ainda é muito bom, porém mais aberto e focado nos médios – os graves entram, na minha opinião, na categoria da timidez.
Gosto muito do que ele apresenta, e em diversos aspectos, me lembro do HD600 – não há dúvidas de que, apesar do primo mais sofisticado ser sem dúvida alguma mais refinado e competente, esse headset definitivamente não faz feio. Traz o típico house sound da Sennheiser. Ou seja: a palavra aqui é musicalidade. Talvez ele não pareça tão impressionante se o analisarmos em detalhes, mas assim como no HD600, aqui, a soma das partes é maior que o todo.
O PC360 é um fone seriamente musical, capaz de eliminar o buraco entre a necessidade de um headset e aspirações audiófilas.
Sennheiser PC330 – US$105,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 32 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 112 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 14Hz – 22kHz
Sennheiser PC360 – US$170,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 50 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 112 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 15Hz – 28kHz
Equipamentos Associados
iMac, Abrahamsen V6.0, HeadAmp GS-X, Woo Audio WA3