INTRODUÇÃO
Uma das marcas de amplificadores mais estabelecidas no meio dos fones de ouvido é a Woo Audio – uma firma familiar que ainda fabrica seus produtos à mão no Brooklyn, em Nova Iorque. A gama de ofertas é extensa, e há desde um simples OTL até um sofisticado amplificador para fones eletrostáticos e um massivo monobloco de 15 mil dólares. Pude pegar, numa troca, o modelo mais simples da marca: um WA3. É um amplificador valvulado, OTL (sem transformador de saída), single-ended, de pouco mais de 500 dólares em sua configuração básica. Minha unidade possui a válvula Tung-Sol 7236, um adicional de 80 dólares.
ASPECTOS FÍSICOS
Gosto muito de equipamentos assim: simples e diretos. Temos aqui um amplificador relativamente compacto, com uma única entrada RCA, uma saída P10 para fones e um botão de volume. E uma questão é que a Woo Audio faz isso com muita classe: seus produtos sempre me impressionaram em termos estéticos e de construção. São equipamentos com uma personalidade muito distinta.
O WA3 é todo feito em alumínio escovado, e passa uma grande impressão de solidez. É bem pesado, e apesar de ainda não ser exatamente grande, é muito maior do que fotos me faziam crer. Alguns detalhes mostram que muito capricho foi colocado em sua construção: a entrada das válvulas – um par de 6922/6DJ8 e uma 6AS7/6080 – possui uma pequena placa com suas especificações, a caixa do transformador possui um interessante acabamento frisado e o botão de volume gira com peso e precisão. Não há dúvidas de que estamos falando de um produto sofisticado, apesar de ele não ser dos mais caros.
Um detalhe bem interessante é que o circuito não é feito com uma placa de circuito impresso – é feito à mão, ponto-a-ponto. Pode ser estranho para quem nunca viu, mas é algo bem interessante e com algumas vantagens, como facilidade de reparo e alta resistência. A desvantagem é que sua construção é muito mais complexa, e por isso apenas alguns poucos fabricantes de boutique usam esse tipo de circuito.
O SOM
Não há motivo para rodeios. Gosto de amplificadores estado sólido, e o motivo é simples: quero ouvir como meus fones são, e não como podem ser. Consequentemente, prefiro ter uma fonte e um amplificador que simplesmente passem o sinal da forma mais passiva o possível, e me mostrem quem o fone realmente é. Sei que isso geralmente é uma utopia, mas o HeadAmp GS-X que uso é um dos poucos amplificadores do mercado que de fato conseguem esse feito. E minha fonte, um Abrahamsen V6.0, está muito longe de ser um DAC realmente sofisticado, mas me apresenta uma voz muito natural.
Amplificadores valvulados costumam seguir uma vertente diferente, com um som mais eufônico e aveludado. O Woo Audio WA3 segue e não segue essa filosofia, porque é um OTL. Amplificadores desse tipo costumam apresentar uma sonoridade excepcionalmente limpa, mas ao mesmo tempo, sendo um valvulado, talvez não seja possível fugir tanto da melodiosidade na qual essa tecnologia implica.
De imediato, vi que o WA3 de fato não exibe a maciez extrema dos meus antigos Meier Audio Corda Eartube e Melos SHA-1. Apresenta, no entanto, uma sonoridade clara, expansiva, quente e convidativa.
É engraçado, porque eu esperava uma diferença mais dramática em relação ao GS-X. Durante o tempo que tive tanto o HeadAmp quanto o Melos SHA-1, via uma diferença distinta entre os dois. O valvulado apresentava uma quantidade ligeiramente maior de graves, que eram mais gordurosos e menos definidos. Os agudos também eram fundamentalmente diferentes, mais macios com um leve pico característico de válvulas. O Meier Audio Eartube, em contrapartida, produzia médios muito macios (essa era a característica mais evidente), amenizados e extremamente doces, mas surpreendentemente refinados e transparentes.
O WA3 segue essa linha, e a clareza que soa reminiscente de amplificadores estado sólido é o mais interessante – porém com um toque de eufonia. Ouvindo o álbum Pearl, do Rúbel, com o HE500, deixa isso evidente. Há um certo toque a mais em regiões aparentemente mais baixas das vozes, que adiciona uma boa dose extra de calor. Apesar de aparentemente não estar perdendo muito em detalhamento, não há como negar que a apresentação do GS-X é a mais direta e despida de embelezamentos. Soa, definitivamente, mais neutra e linear. São interpretações distintas de um mesmo som. Quer dizer, o GS-X conta a história como ela é. O Woo dá uma incrementada aqui e ali para tentar deixá-la um pouco do seu jeito.
O Sony SA5000 é o que mais se beneficia dessas características. Esse fone é comicamente analítico – por uma larga margem o fone mais frio e analítico que já ouvi –, algo que, surpreendentemente, aprecio em muitas situações, e o WA3 consegue dar uma belíssima amenizada nas arestas que muitas vezes incomodam. Essa é a sensação. Tenho agudos levemente suavizados e médios perdendo parte da característica excessivamente clara e agressiva que os caracteriza nesse reprodutor. Veja, porém, que é uma diferença sutil, e não chega perto de mascarar sua frieza. O amplificador apenas atenua seus aspectos negativos.
Aliás, essa é a situação que mais caracteriza a forma como vejo o embate válvulas versus estado sólido: o GS-X me mostra quem o SA5000 realmente é em sua integridade. Já o WA3 é aquele amigo que o enaltece, me mostra seu lado bonito, e não me conta as coisas ruins que ele faz.
Com o Grado HP1000 isso muda um pouco. Já acho os agudos desse fone levemente recuados, e apesar de sua sonoridade nua e crua, há uma certa suavidade no que ouço dele. O WA3 acaba por tirar um pouco de sua definição, levando-o longe demais na suavidade. Os agudos parecem ir mais para trás do que eu gostaria. Já no SR60i, que possui agudos mais para a frente e sem tanta definição, isso se torna positivo.
CONCLUSÕES
Aí está. O clássico divisor de águas da audiofilia em plena forma: válvulas ou estado sólido?
Fiquei muito satisfeito com as qualidades do Woo Audio WA3. É um amplificador que apresenta uma simplicidade que valorizo muito dentro dessa proposta, com uma sonoridade surpreendentemente clara e transparente para um valvulado – porém com um pequeno toque de musicalidade que pode ser muito bem vindo em diversas situações.
Devo dizer, no entanto, que ao contrário do que se espera, esse comparativo me mostrou com ainda mais clareza que o tradicional estereótipo de frieza dos amplificadores estado sólido não é merecido (pelo menos com os bons). O GS-X é ligeiramente mais frio que o WA3, mas se eu tivesse que definir quem é que está mais certo, não hesitaria em escolhê-lo. É o mais balanceado, neutro e direto. A impressão é de que, com ele, o controle sobre os fones é total e absoluto. Ele toma as rédeas deles com incrível autoridade e faz com que mostrem exatamente como são. E não posso negar que prefiro essa proposta.
O valvulado fica como um adicional. Afinal, quem não gosta de um calor a mais de vez em quando? Gosto de ter um amplificador de referência, o HeadAmp, e o WA3 se encaixa como um amplificador que traz uma personalidade ligeiramente diferente e mais descompromissada quando isso for o que quero. Principalmente num equipamento que atua como uma bela peça de decoração em minha estante.
Woo Audio WA3 – US$520,00
+ Tung Sol 7236 NOS – US$80,00
- Headphones impedance : 30-600 Ohms
- Input impedance: 100 Kilo-Ohms
- Frequency response: 8 Hz – 100 KHz -3dB
- Signal/Noise: 95 dB
- THD: <= 0.08%
Equipamentos Associados
Fones: Grado HP1000, HiFiMAN HE500, Sony SA5000, AKG K702, AKG K550, Grado SR60i, Sennheiser PC360, Etymotic Research MC3
Transporte: iMac+ M2Tech HiFace (+ cabo coaxial Acoustic Zen MC2)
DAC: Abrahamsen V6.0