INTRODUÇÃO
Nunca me importei muito com cabos. Tive algumas experiências que me fizeram ter essa opinião, mas ao mesmo tempo, nunca fechei a cabeça para a possibilidade de cabos exercerem, de fato, uma influência significativa no resto do sistema.
Recentemente, uma marca bem conceituada entrou no Brasil – a Tchernov Cable, trazida pelo importador Ianaconi Imports. Diogo Ianaconi, o importador, muito gentilmente me enviou alguns cabos da marca para que eu testasse. Aproveitei a oportunidade para conduzir alguns testes e compará-los com cabos que tenho em casa, com o objetivo de ter uma maior noção do lugar dos cabos no sistema.
Esse tema gera grandes debates e divisões no meio audiófilo, por isso não pretendo entrar nos méritos da relação custo-benefício ou ainda nas explicações científicas para quaisquer diferenças que eu vá ouvir. Sei que há muita pseudo-ciência na audiofilia –algo que me incomoda muito, diga-se de passagem –, então meu comparativo será extremamente simples: vou comparar os cabos e falar sobre quaisquer diferenças que eu consiga identificar, sem julgar o preço ou tentar achar explicações. Deixo isso a cargo do leitor.
METODOLOGIA
Quanto menor for o tempo entre as audições comparativas, mais apuradas serão as percepções. Melhor ainda, porém, é poder ouvir simultaneamente dois cabos: um em cada ouvido.
Já usei esse método algumas vezes, com resultados reveladores. Farei exatamente a mesma coisa aqui com os cabos de interconexão: colocarei um em cada canal. Ouvirei principalmente gravações em mono, e o principal CD de testes será o Timbres, da CAVI. Ele contém uma série de gravações de instrumentos isolados, gravados com três modelos diferentes de microfones, sem qualquer tipo de processamento.
Para isso, usarei primariamente o JH13 Pro, um monitor intra-auricular de referência, que atua como uma lupa no sistema inteiro. No entanto, para isolar outras variáveis (como diferença na audição dos dois ouvidos, por exemplo), usarei o HiFiMAN HE500 como calibrador: ao ouvir alguma diferença no JH13 Pro, trocarei para o HE500, que é simétrico, e pode ser usado dos dois lados. Assim, posso trocar os lados para verificar se a diferença ouvida no JH13 Pro se mantém – mesmo que em menor proporção, devido ao fato de o HiFiMAN ser menos transparente.
Com os cabos de força, infelizmente não tenho como fazer isso. Pretendo, portanto, deixar dois cabos prontos ligados ao condicionador de energia AC Organizer LC111. Assim, o tempo de troca é minimizado.
ASPECTOS FÍSICOS
Não há dúvidas: ao optar por cabos mais sofisticados, você também paga por uma apresentação mais sofisticada. Os mais caros aqui avaliados são bem mais impressionantes. Os de interconexão da Acoustic Zen contam com conectores que podem ser rosqueados para aumentar a pressão – o que acho desnecessário, visto que no mínimo possível já há bastante, e aumentando-a, tenho muito medo de danificar as saídas dos equipamentos. Isso também acontece no Cambridge Audio Arctic, aliás.
Fora isso, esses cabos em si também são bem requintados, apresentando diversas camadas de isolamento, mangas de nylon e, nos Acoustic Zen, uns detalhes brilhosos de gosto bem duvidoso. São definitivamente cabos chamativos – e os conectores, nos de força, são comicamente grandes.
Um problema que encontro frequentemente é a falta de flexibilidade. Provavelmente é um custo a se pagar pelas diversas camadas dos cabos, mas a bitola dos mais sofisticados é enorme e a flexibilidade é seriamente prejudicada. Esse não é exatamente um problema em sistemas montados com racks dedicados numa sala própria – mas no meu quarto, por exemplo, com um rack mais simples, tendo como prioridade a estética organizada, isso vira um problema.
INFLUÊNCIA SONORA
1) Interconexão Single-ended (RCA)
Usarei como base, aqui, o bom e velho flamenguinho, desses que vem inclusos em aparelhos de DVD, que será comparado ao segundo cabo mais simples do comparativo, um Cambridge Audio Arctic. As diferenças entre os dois cabos são pequenas, porém audíveis. Me parece que o flamenguinho é um pouco mais solto e menos transparente, com uma quantidade minimamente maior de médio-graves e menor de médios. Consequentemente, o Cambridge me parece ligeiramente mais definido, com uma apresentação mais assentada, segura, e definida, apesar de mais estéril. Agora, deixando claro: eu nunca seria capaz de detectar essa diferença com qualquer intervalo que fosse entre as audições – só estou ouvindo porque estou com um cabo em cada lado. No entanto, posso dizer que ouço uma distinção relativamente evidente aqui.
A seguir, troquei o flamenguinho pelo Tchernov Audio Classic IC RCA, o segundo mais sofisticado do comparativo. As diferenças se mantiveram na mesma ordem de magnitude. A principal distinção é um leve ganho de transparência com o Tchernov, que aparenta trazer também mais médios. Isso fica mais evidente ouvindo a gravação do prato de bateria do álbum Timbres – com o Tchernov, ele parece ser levemente mais aberto, com harmônicos mais definidos. Os graves também me parecem mais limpos de alguma forma, principalmente na região dos médio-graves. Nesse caso, é possível dizer que o desempenho do Tchernov é superior – mas por uma margem realmente pequena. Imagino ser possível, inclusive, preferir o Cambridge em alguns casos.
O próximo passo foi substituir o Cambridge pelo Acoustic Zen Silver Reference II. Me parece que a diferença entre o Silver Reference e o Classic é ainda menor do que nos outros casos. Ouço graves um pouco mais fortes e autoritários no Acoustic Zen, mas veja que isso não necessariamente é algo positivo. No meu sistema, inclusive, o Tchernov ainda parece ser o mais transparente e com uma melhor definição espacial – o Silver Reference, de alguma forma, me soa risivelmente mais analógico e sedoso, o que pode ser desejado ou não. Apesar de achar que em todos os casos anteriores o maior jogador na equação é o gosto pessoal, aqui isso me parece mais forte.
2) Interconexão Balanceada (XLR)
Nesse caso, infelizmente só tenho um cabo para comparar ao Tchernov: um XLR genérico, da marca HotWires, feito para microfones. Esse na verdade foi o primeiro teste que fiz – ainda que de maneira preliminar –, mas é o que mostra diferenças mais claras entre os cabos.
Sinto que o cabo genérico, surpreendentemente, tem uma apresentação mais seca e definida, enquanto o Tchernov me soa mais fechado, mas ao mesmo tempo mais eufônico – os médios são um pouco mais opacos, e os graves ligeiramente mais presentes. Esbarrei no clássico embate frio versus quente. Não me parece possível, nesse caso, apontar superioridade. São apenas diferentes, e ambos podem trazer algo desejado ou indesejado para um sistema na mesma proporção. Devo dizer, porém, que em meu sistema, certamente prefiro o resultado com o Tchernov. Não perco muita coisa em transparência, mas ganho em musicalidade.
2) Cabos de Força
Meu sistema é composto por um iMac, que serve de transporte, junto com a interface M2Tech HiFace, para um DAC Abrahamsen V6.0, que alimenta um HeadAmp GS-X. Tenho atualmente dois cabos Acoustic Zen Krakatoa, que uso com o DAC e com o amplificador. Na primeira parte do comparativo, comparei esses cabos a IECs comuns, genéricos.
Como disse na seção sobre a metodologia, esse comparativo é o mais difícil. Afinal, não é possível ouvir dois cabos de força simultaneamente – por isso, é mais complicado confiar nas minhas percepções acerca de diferenças sutis. De toda forma, acredito ter encontrado uma diferença sensível, mas audível: me parece que o sistema, com os cabos Acoustic Zen, alcança um melhor desempenho nos graves. A Truant, do Burial, aparenta ter mais peso e volume nessa região com os Krakatoa.
Trocando para o Tchernov Classic XS AC Power no HeadAmp GS-X, vejo que essa diferença em relação aos genéricos se mantém: mais graves. Porém, ao mesmo tempo, acredito estar ouvindo um som com médios ligeiramente mais presentes – o que acaba trazendo uma sensação de maior transparência.
Novamente, é mais complicado confiar nas minhas impressões sobre as diferenças trazidas por esses cabos de força, porque elas me pareceram realmente sutis. De toda forma, acredito ter ouvido uma leve melhoria passando dos cabos genéricos para os mais sofisticados – cada um deles tendo um resultado ligeiramente diferente.
CONCLUSÕES
Pude observar, com esses testes, que cabos podem exercer um papel de ajuste fino na sonoridade de um sistema. Ouvi pequenas diferenças pontuais ao fazer as trocas, e tive resultados que me pareciam ligeiramente diferentes.
Como disse, meu objetivo aqui não é fazer um juízo de valor ou tentar explicar as diferenças ouvidas – prefiro deixar isso a cargo do leitor, para que ele avalie o que vale a pena para sua realidade (em termos gerais, não só financeiros) ou não. É simplesmente ouvir o que cabos, sofisticados ou não, podem fazer para um sistema, e relatar para o leitor.
Nada do que escutei foi dramático – muito pelo contrário. No entanto, são efeitos extremamente sutis, mas que podem, por exemplo, enaltecer um pouco os graves de um sistema, ou suavizar os médios de um outro. Não é nada como a influência de um fone, amplificador ou fonte, mas são pequenos ajustes que podem levar uma sonoridade para uma determinada direção. Por isso, pude verificar o que acreditava antes: os cabos devem ser os últimos a serem escolhidos, porque vão dar os “pitacos” para modificar um aspecto do sistema ou outro, deixando o sistema mais próximo do que se quer.
Gostei de ouvir o que cada cabo tinha para oferecer ao meu sistema – cada um me oferecia um sabor ligeiramente diferente para o que já está muito bom.
CABOS TESTADOS
Interconexão:
HotWires XLR – R$ 80,00
Cambridge Audio Arctic 1m – R$ 150,00
Tchernov Classic IC RCA 1m – R$ 1.200,00
Tchernov Classic XS IC XLR 1m – R$ 3.040,00
Acoustic Zen Silver Reference II RCA 1m – R$ 3.550,00
Força:
Tchernov Classic XS AC Power 1,65m – R$ 1.920,00
Acoustic Zen Krakatoa 1m – R$ 2.200,00