INTRODUÇÃO
Pensei que o capítulo Audio-Technica tinha sido fechado. Felizmente, tenho um pouco mais para falar sobre a marca.
Como já cheguei a comentar algumas vezes, sempre tive muita curiosidade quanto à linha de fones de madeira da marca. Sei alguns dividem opiniões – W5000 que o diga –, mas parece que eles têm a fama de serem extremamente melodiosos e eufônicos. Depois de testar os A700X e ver o quão bom ele é, essa curiosidade só aumentou.
O W3000ANV, um full-size fechado, foi uma edição de aniversário de 50 anos da marca, lançada em edição limitada – foram feitas 2000 unidades e a produção já acabou. Consquentemente, a oferta está cada vez mais escassa, se aproximando de inexistente.
Graças ao Leandro, a quem sou muito grato por essa oportunidade, pude passar um tempinho com um.
ASPECTOS FÍSICOS
Aqui, fico um pouco dividido. Em termos de aparência, o W3000ANV é um fone espetacularmente bonito e luxuoso. A madeira é de extremo bom gosto e discreta, já que há uma camada espessa de verniz e uma tinta vinho, que acabam mascarando um pouco os grãos naturais desse material.
Minhas (leves) ressalvas se dão pelo fato de que, fora os cups de madeira e alguns outros pequenos detalhes – como os pads de um couro de melhor qualidade, cor das armações de plástico, indicações dos lados, cor do revestimento de tecido do cabo e plugue (que é lindo aliás, de madeira com detalhes dourados), ele é basicamente igual ao A700X. O W3000ANV custava 1.200 dólares, ou seja, literalmente dez vezes o preço do irmão menor, e por isso esperava diferenças maiores em termos de construção. Não sei se é o A700X que é mais bem construído que seu preço sugere, mas não sei se eu deveria esperar uma maior diferenciação – como metal nas partes de plástico, por exemplo.
Outro problema é que o W3000ANV é um pouco mais pesado, e como o suporte de cima da cabeça é naquele esquema tradicional da marca – dois pequenos pads que fazem pouca pressão –, ele acaba ficando frouxo, os cups descem e os pads fazem um pouco de pressão na parte embaixo dos ouvidos. Consequentemente, ele acaba sendo, pelo menos para o formato da minha cabeça, menos confortável. No entanto, isso certamente é pessoal, visto que o primeiro comentário que meu pai fez quando testou esse fone foi o quão confortável ele era.
Independente dessas questões, não há como negar que o W3000ANV é bem impressionante fisicamente. Faço os mesmos elogios quanto à embalagem: a Audio-Technica sabe apresentar um fone com pompa e luxo. Vejam a foto.
O SOM
A primeira impressão que tive foi justamente o que esperava: uma apresentação realmente doce, eufônica e absolutamente deliciosa. Isso vem, é claro, a custo de neutralidade. Mas, honestamente, com o que esse fone faz com muitas das minhas músicas, fico me perguntando por que é que eu iria querer neutralidade. Não é fácil explicar o que o W3000ANV passa… é uma doçura realmente incrível, e acho que poucas vezes ouvi coisa parecida.
Outra característica que fica clara desde o início é a capacidade de não trazer os predicados geralmente associados a fones fechados. Não é que ele passe uma sensação de abertura e respiro como muitos dos abertos, mas ao mesmo tempo, vejo grande espacialidade aqui, e não parece haver nenhuma coloração proveniente de ressonâncias internas prejudicando os médios – a menos que o calor que ele proporcione seja essa coloração, mas se esse for o caso, agradeço enfaticamente por ele não ser aberto. Ele soa muito natural.
Os graves são sensacionais e, assim como o AD700X, me lembram muito o in-ear Sony EX1000 – fone que eu elogiava muito nesse departamento. Eles são muito presentes, na proporção que eu consideraria perfeitamente ideal, mas com muita delicadeza e suavidade, sem perder definição. A capacidade de apresentar texturas é muito significativa. Há impacto também, mas não é aquele característico impacto seco – os graves aqui são mais lentos, sedosos. A única questão que sinto é uma discreta falta de peso e substância. Mas, se adicionar essas características fosse prejudicar a doçura dos graves, preferiria que ficasse como está. Definitivamente não é para músicas energéticas, mas não acho que esse Audio-Technica tenha sido feito para isso.
Quanto aos médios… também são um exemplo de como encantar. O equilíbrio tonal do W3000ANV é muito natural e correto, portanto em termos de presença a região média está exatamente onde eu gostaria dentro de sua proposta. O timbre é irrepreensível, mas o que realmente faz a diferença – e separa esse fone de todos os outros que já ouvi é o desempenho totalmente irresistível nessa área. Mais uma vez, há um calor e uma sedução impressionantes, que fazem os sistemas mais frios soarem como os mais eufônicos. Ele faz parecer que até os cabos e a tomada na qual os equipamentos estão ligados têm válvulas.
E isso não vem a custo de transparência e definição. Ele vai muito além do que a caracterização como “doce e eufônico” normalmente sugere. É claro que esse Audio-Technica não apresenta os níveis de resolução de fones como o HD800, mas em compensação ele não te faz perder muita coisa. E se fizer, acredite, você não vai se importar nem um pouco.
No entanto, existe algo aqui que não consigo bem explicar, mas é como se ele não possuísse a “massa” que tanto calor e eufonia costumam sugerir – como ouço, por exemplo, no HE500. Há também uma significativa tridimensionalidade no fone, e me parece que essas duas características acabam fazendo com que a apresentação seja um pouco mais leve e algo distante. E a questão é que essa característica faz com que eu acabe compensando com um volume um pouco mais alto. Não é algo negativo, é apenas uma característica, mas confesso que fico dividido.
Os agudos são, mais uma vez, exemplares. Não por serem perfeitos – são sem dúvida alguma coloridos –, mas por estarem totalmente de acordo com a proposta do W3000ANV e por representarem exatamente o que eu caracterizaria como agudos eufônicos. Acho que na maioria das situações agudos mais presentes estão relacionados a frieza, mas aqui isso não poderia estar mais longe da verdade. Não é que eles sejam excessivos ou recuados – talvez esteja soando bom demais para ser verdade, mas mais uma vez vou recorrer ao clássico “estão onde deveriam estar”.
Mas aqui fico de novo impressionado com a capacidade de mostrar agudos perfeitamente presentes e com excelente extensão dentro de uma sonoridade com os dois pés na eufonia sem causar qualquer prejuízo a essa característica. Geralmente, acho que os fones mais doces possuem agudos mais recuados, mas o W3000ANV dribla essa tendência com os pés nas costas, e por isso não traz os prejuízos associados a ela – escuridão e falta de brilho e definição.
Por falar em brilho, parece haver um pequeno pico – geralmente inofensivo, mas que pode, em raras ocasiões, apresentar uma pitada de sibilância – que foi colocado no melhor lugar possível. Eu realmente não consigo explicar, mas os agudos desse fone também são encantadores. Dane-se o timbre. Conseguem a proeza de mostrar presença, definição e extensão aliada a suavidade e ternura.
O resultado disso tudo, como já deve ter ficado evidente, não é um fone faz-tudo. O W3000ANV não foi feito para tocar rock ou música eletrônica – ele até pode, e bem, mas realmente mostra a que veio com um Kind of Blue numa tarde chuvosa. Qualquer instrumento que dependa de médios doces vai encontrar o nirvana nesse fone.
CONCLUSÕES
Fui pego pelo pescoço.
Fiz algum esforço para passar meu entusiasmo nessa avaliação (não sei se deixei isso transparecer através do texto), mas isso não aconteceu por falta dele, muito pelo contrário –aconteceu porque a última coisa que eu queria fazer com o Audio-Technica W3000ANV era avaliá-lo. A única coisa de que tenho vontade com ele na cabeça é ouvir música.
Francamente, analisar esse fone é um contra-senso. Se há uma coisa para a qual esse fone não foi feito, é para ser analisado. Acho que nunca ouvi tanta eufonia e musicalidade num equipamento de som. Ele me lembra constantemente o motivo pelo qual sou tão apaixonado por música – porque para mim foi impossível não ficar completamente encantado com a forma como ele a apresenta.
O W3000ANV é totalmente irresistível e é, sem competição, a maneira mais sedutora de ouvir música que já ouvi até hoje. Isso o torna, com muita facilidade, um dos melhores fones de ouvido que já tive o prazer de testar.
Audio Technica ATH-W3000ANV – US$1.200,00 (fora de produção)
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 40 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 102 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 5Hz – 42kHz
Equipamentos Associados:
Portáteis: iPod Classic
Mesa: iMac, MacBook Pro, M2Tech Hiface, Abrahamsen V6.0, HeadAmp GS-X