INTRODUÇÃO
Vejo, nos fóruns que frequento, uma grande quantidade de pessoas atrás de um bom fone procuram por headsets – ou seja, fones de ouvido com microfone embutido. Sei que um bom fone de ouvido faz diferença para os gamers e me parece que eles querem, também, algo que seja bom para música. E, nesses fóruns, os headsets – pelo menos aqueles de marcas como Razr, Logitech, Turtle Beach – são imediatamente descartados como boas opções para os que querem qualidade de som.
Nunca pude ouvir um desses, mas tenho aqui agora, graças ao Rafael Lopes, três headsets supra-aurais de marcas mais tradicionais para ver se é possível obter um bom resultado sonoro para música de um fone de ouvido dessa categoria: um AKG GHS1, e os Sennheisers PC151 e PC31. Vejam que não sou um gamer, e por isso meu intuito não é avaliar os fones para jogos – e sim ver como eles se comportam em audições.
ASPECTOS FÍSICOS
Os três fones ocupam faixas de preço diferentes, e isso já fica claro ao olhar para eles: sei que gosto é pessoal, mas é inegável que o AKG é o mais sofisticado. Mesmo sendo feito inteiramente de plástico e tendo uma construção simples, ele é muito mais elaborado que os outros dois – e, na minha opinião, muito atraente num estilo hi-tech, que parece condizente com a proposta e o público alvo.
A versão que tenho aqui é a preta, com detalhes como o cabo (que possui um botão para mutar o microfone e um controle de volume) e as inscrições em laranja e acentos cromados. Os pads são de tecido, assim como o apoio do headband, que é macio mas fixo – ao contrário de outros fones da marca que já testei, como K271 e K240, que possuem elásticos. Os cups são móveis em vários sentidos, e o resultado é um excelente nível de conforto. Um detalhe é o microfone, mais curto que o normal. É interessante por não ficar logo à frente da boca, o que provavelmente significa que ele não capta respiração, mas imagino que capte mais sons externos que os outros fones avaliados. E, ao contrário deles, aqui o microfone é fixo.
Já os Sennheisers são mais bem simples. Simples até demais. Não acho que sejam, nesse aspecto, condizentes com o preço. Fones da Philips, da Koss, da Sony e da própria AKG, em faixas de preço semelhantes, são muito mais interessantes esteticamente e em termos de materiais empregados.
O PC151 é, também, inteiramente de plástico, mas a qualidade me parece consideravelmente inferior à do AKG. Os pads são de um tecido macio, que também reveste o headband – que, aliás, tem um formato muito estranho, mais quadrado, que lembra os Stax Lambda. O microfone fica num interessante mecanismo de rotação, que permite que ele seja posto na posição de preferência do usuário, e tem a haste emborrachada e flexível. Também há um controle de volume e um botão para mutar o microfone no cabo, também de menor qualidade que o do GHS1. Também é, porém, muito confortável por ser extremamente leve.
O PC31 leva a simplicidade a um novo patamar. Ele não é muito diferente daqueles supra-aurais que acompanhavam os discmans a quase duas décadas atrás. No exterior, custando meros 30 dólares, isso é perfeitamente aceitável. Mas aqui no Brasil, por quase 150 reais, a história é outra.
Não há muito o que falar: é simplicidade ao extremo. Há apenas plástico, os pads são de espuma e o headband não apresenta qualquer revestimento. O microfone também possui o mecanismo de rotação do irmão mais sofisticado, mas aqui não há qualquer controle no cabo. O conforto, no entanto, também é bom: fruto da leveza.
O SOM
Como disse, meu objetivo nesse ensaio não é avaliar esses três fones como headsets. É verificar se eles são, também, bons para ouvir música. Comecei pelo AKG.
Entre os três, o GHS1 é o que possui a sonoridade mais cheia, com graves mais fortes. Mas isso não é necessariamente uma coisa boa. Acho, inclusive, que os graves são excessivamente fortes. E não é um incremento bem feito – o pico é nos médio-graves, o que acaba congestionando a apresentação. Há forte vazamento nos médios.
Em músicas eletrônicas, hip-hop ou rap isso não incomoda tanto, mas qualquer coisa que precise de desenvoltura nos médios e agudos (ou seja, basicamente qualquer coisa fora esses gêneros) acaba sofrendo. E, para completar, a qualidade dos graves não é grande coisa. Há bom impacto, mas a definição é fraca. Temos um pouco daquele tradicional “grave de uma nota só”. Por exemplo, gravações de solos de baixo, como a Selene do Michael Manring ou a Classical Thump do Victor Wooten parecem mostrar uma parte “grave” do som do baixo deturpada e totalmente dissociada da parte média e aguda. Essas regiões não parecem compor uma unidade.
Os médios são razoáveis, mas sofrem com o mal dos fones fechados menos sofisticados: o som é anasalado e muito fechado. E, por causa da invasão dos graves nessa parte do espectro, a transparência sofre, situação agravada pelo recuo dos agudos. Eles não têm muita vida, brilho ou presença, e novamente são dominados pelos graves. A relação entre a região média e a alta não é exatamente ruim, mas é, no final das contas, prejudicada pelo que acontece nos sons baixos. Esse é um fone sem dúvida puxado para os graves, priorizando uma apresentação mais escura e quente. O problema é que isso não é exatamente bem feito. Mas não é de todo ruim e é sim possível aproveitar o que se ouve aqui. Afinal, não podemos nos esquecer de que estamos falando de um fone relativamente barato, pelo menos lá fora.
Passando para o PC151, notamos de imediato um som muito mais aberto, com graves mais comedidos – o que, nesse caso, é algo muito bom. Não há o mesmo peso, mas a apresentação é muito mais balanceada. Eles são leves mas têm peso razoável, com boa presença e definição. Podem, em alguns casos, ser mais recuados do que eu gostaria – em música eletrônica e rock por exemplo –, mas sem dúvida alguma prefiro seu desempenho ao do AKG.
Os médios também são melhores, e se mantém a característica anasalada do GHS1, são muito mais lineares e, principalmente, abertos – por não haver interferência dos graves. O arejamento é o principal diferencial do PC151 em relação ao AKG, e o palco sonoro acaba, por extensão, sendo também melhor. Vocais não têm o calor do GHS1, fruto da apresentação mais analítica, mas é um bom preço a se pagar para não haver o borrão e o congestionamento proporcionados pelos graves do austríaco. Aqui, o peso é trocado por resolução e arejamento.
O mesmo acontece com os agudos, que têm um espaço muito mais definido no espectro. Não há a sensação de claustrofobia e escuridão do AKG. Ao invés disso, temos agudos muito competentes, com boa presença e brilho. Não têm tanto corpo quanto eu gostaria, mas isso acontece com 90% dos fones que conheço.
Obviamente, porém, existem defeitos: há um pico notável nos médio-agudos que pode incomodar bastante em gravações específicas. É uma região próxima à da caixa da bateria. Às vezes, com essas gravações, em volumes mais elevados, a fadiga auditiva é intensa.
Essa experiência positiva me trouxe boas expectativas com relação ao irmão menor, PC31. E, de fato, em alguns aspectos, ele acaba impressionando.
Os graves têm muito mais vigor do que as aparências sugerem. Há bom impacto, e a presença é interessante. Não é que ele tenha a desenvoltura de um PortaPro – não tem –, mas não decepciona nesse quesito. Esse é um fone perfeitamente aceitável para gêneros como música eletrônica. Mas, é claro, não há como desejar a melhor definição e texturização em graves de um fone como esse.
Os agudos, assim como os graves, se não são a última palavra em competência, também não decepcionam tendo em vista a faixa de preço do PC31. Em termos de presença são bons, e conseguem bom brilho e definição.
O problema é o que acontece nos médios: há um pico que torna a performance com rock totalmente insuportável. É numa região onde reside o ataque de guitarras distorcidas, e o resultado é desastroso. É uma pena, porque os graves e os agudos são interessantes. A sensação da entrada do refrão de In The White do Katatonia, após o tranquilo refrão, só pode ser descrita como dor.
Acredito, porém, que esse pico talvez seja interessante para o uso com ligações telefônicas. Afinal, vai haver naturalmente um filtro priorizando o que realmente importa: a voz. Nesse caso, acredito que o PC31 é o que vai apresentar um resultado mais inteligível, seguido pelo PC151. O AKG é o que mais vai sofrer – imagino que seja difícil compreender alguém que esteja num ambiente com muitos ruídos graves, como numa rua barulhenta. Mas não acho que o foco do GHS1 seja esse com seu visual gamer. Os Sennheisers, porém, tem uma estética muito mais próxima do telemarketing. Mas não podemos esquecer que não estou avaliando esses fones nessa função. E, nesse caso, o GHS1 está reprovado, assim como o PC31 em qualquer coisa que apresente uma guitarra distorcida.
CONCLUSÕES
Temos aqui três headsets em faixas de preço diferentes e, pelo que parece, com objetivos diferentes. O AKG GHS1, com seu visual futurista e ótimo acabamento me parece mais direcionado ao público gamer, e sua assinatura sonora aparenta ser prova disso. É muito mais puxado para os graves, o que na prática significa um incremento em efeitos como explosões ou tiros.
Já o Sennheiser PC31 é mais focado nos médios – o que em algumas situações me incomoda profundamente, já que a apresentação, assim como no GHS1, se torna excessivamente desbalanceada. Pode, porém, ser ideal numa ligação telefônica pelo Skype.
O problema é que meu objetivo nessa avaliação não é descobrir qual o melhor headset, é verificar se eles podem ser boas alternativas para se ouvir música. E, se esse é o caso, o único que me parece um bom compromisso entre as duas funções é o Sennheiser PC151. Sua apresentação é sem dúvida alguma a mais balanceada dos três, e a mais indicada para um bom resultado com gêneros musicais diversos.
Mas, mesmo com o PC151, não consigo parar de pensar no PortaPro. Sinceramente, esse Sennheiser é o único que consegue brigar com esse clássico, mas ainda assim, prefiro o bom e velho Koss. É mais quente, mais divertido e mais confortável. E não é a única opção, aliás – existem também outras ótimas alternativas como AKG K414, K99, K77 e K44, Sennheiser PX100 e PX200 e Monoprice 8323.
Se você precisa de um microfone preso ao fone, o Sennheiser PC151, entre os três fones avaliados, é minha recomendação. Mas, se puder usar um microfone externo, existem opções ainda mais interessantes.
Ficha Técnica
AKG GHS1 – R$369,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 150 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 105 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 14Hz – 40kHz
Sennheiser PC151 – R$251,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 150 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 105 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 14Hz – 40kHz
Sennheiser PC31 – R$149,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 150 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 105 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 14Hz – 40kHz
Equipamentos Associados:
Portáteis: iPod Classic
Mesa: iMac, MacBook Pro, Cambridge Audio DacMagic, HeadAmp GS-X