INTRODUÇÃO
Até não tanto tempo atrás, a V-Moda era só mais uma fabricante de fones com muito estilo e pouca substância. Há pouco tempo, porém, tenho notado que a marca tem ficado mais popular no meio entusiasta, principalmente com o modelo que tenho para avaliação, o Crossfade M-80 – mais um empréstimo do Rafael Lopes. Trata-se de um pequeno supra-aural fechado, para uso portátil.
ASPECTOS FÍSICOS
A marca ter sido primariamente focada em estilo aparentemente trouxe bons resultados. O V-Moda é um fone excepcionalmente bem projetado e construído. A começar pelo fato de que ele é construído sob padrões militares de resistência (!): aguenta limites de temperatura altíssimos, umidade, spray de sal e exposição a raios UV.
E isso não é feito em detrimento da estética. Beleza é muito subjetivo, mas confesso que, apesar de achar o M-80 um fone atraente, não é bem o meu estilo. A qualidade de construção, no entanto, é uma unanimidade. Há uma forte impressão de solidez. Os cups são de plástico, mas as hastes que prendem o headband às cups é de um metal à là Beyerdynamic, e é realmente resistente. Os cups têm uma placa de metal que pode ser customizada com a marca, uma adição muito interessante. O headband tem alguma espuma – mas não tanta –, e é revestido por cima num tecido que parece um misto entre courino e alcântara, e em baixo num tecido texturizado.
O cabo é revestido também de tecido, e é conectado ao fone por meio de um conector P2 – e assim como no Sennheiser HD700, infelizmente, há um recuo, que pode dificultar um recabeamento. O M-80, aliás, vem com dois cabos: um apenas com um botão, para ser usado com celulares comuns, e outro especificamente para iPhones e iPods, contando também com um controle de volume. Ambos possuem, na ponta de conexão ao tocador, um plugue a 45º. É um meio termo muito interessante – e bem-vindo – entre o reto e o a 90º.
A hard case inclusa também é digna de nota. Continua uma estética meio “Homem-Aranha”, e é de um material rígido emborrachado, moldado especificamente ao fone, sendo revestida por dentro de um tecido macio. Há, também, duas seções com elásticos para guardar os cabos.
O fit e o conforto são bons, assim como o isolamento. O M-80 não é um fone nem pesado nem leve, e a pressão exercida nos ouvidos está num limite para se conseguir um encaixe confortável e um bom nível de isolamento – que não é tão eficiente quanto o de um Beyerdynamic DT1350, mas ainda assim é muito satisfatório em ambientes barulhentos. Usei em lugares não tão silenciosos com bons resultados.
O SOM
Audiófilos e entusiastas, normalmente, preferem o som de fones abertos, e não é à toa. O som costuma ser mais arejado, com uma melhor capacidade de projetar um espaço convincente. Fora que há alguma coisa, que não sei explicar bem, que faz com que eles soem mais naturais que a maioria dos fones fechados – que, em comparação, têm uma estranha sensação de estarem presos. Tanto pelo palco limitado quanto pelo fato de os graves normalmente serem mais fortes e firmes em regiões mais altas, e os médios terem algo de anasalados. Estou generalizando, é claro, mas boa parte dos fones fechados que conheço se comparam dessa forma aos abertos.
No entanto, os fechados também têm algo a oferecer. Muitas vezes, ouço deles uma personalidade energética, com bastante punch e vigor. Bons fones abertos às vezes conseguem essas mesmas características aliadas à sonoridade mais solta e espacial deles, mas normalmente a um preço alto – Grado RS1i, HiFiMAN HE500 e Audez’e LCD2 me vêm imediatamente à cabeça. Mas isso não é frequente, e acho que essa energia oferecida por bons fones fechados é muito interessante.
A primeira impressão que tenho do M-80 é exatamente essa: a personalidade é forte, com um som realmente energético, mas restrito em espacialidade. Os graves imediatamente chamam atenção. São realmente fortes, muito mais do que eu consideraria natural, mas há um bom motivo: esse V-Moda é feito para uso portátil, e o som de uma cidade possui muitas frequências baixas. Por isso, é natural e desejável incrementar essa região num fone com essa proposta.
E esse incremento, no M-80, é muito bem feito. Não há um bump considerável nos médio graves, e toda a região parece ser elevada. Num ambiente fechado, com audições críticas, não gosto do resultado, que me parece congestionado em grande parte por essa característica. Mas, andando numa rua barulhenta, o resultado é ótimo. As regiões baixas têm bastante desenvoltura. Não são o maior exemplo em textura, mas há um ótimo ataque e definição. Esse fone, aliás, em termos de sonoridade, me lembra muito o Beyerdynamic DT1350. É uma personalidade parecida, e lembro que algo que me incomodou no Beyer foi justamente uma falta de definição nos graves elevados. O bumbo da bateria no trecho do meio da Ljudet Innan, do Storm Corrosion, era um exemplo disso: ele era praticamente inaudível, porque se mesclava nos graves incrementados. Aqui, eles são perfeitamente audíveis e definidos.
Mas, como disse, alguns desses elogios só são merecidos em ambientes mais barulhentos. O problema é que, no silêncio do meu quarto ouvindo jazz com o M-80 no GS-X, sinto uma grande carência de refinamento. Há um peso desproporcional nos graves, que prejudica a naturalidade dos médios e agudos que ouço aqui. Entretanto, vale lembrar que essa crítica é muito relativa, porque a prioridade desse fone não é essa. E, em seu habitat natural, essa característica se justifica.
Os médios também rendem elogios. São muito competentes, e dentro do que eu chamaria natural. Há uma característica levemente anasalada, mas é realmente discreta, e fora isso, em termos de tonalidade, não tenho do que reclamar. Os únicos problemas se dão justamente pela personalidade mais fechada do M-80: a espacialidade, como na grande maioria dos fones desse tipo, é muito limitada. Há pouquíssimo arejamento, e há evidente congestionamento. Parece literalmente haver muito pouco espaço entre os instrumentos, o que prejudica a transparência e, até certo ponto, o detalhamento.
E, nesse aspecto, os agudos não ajudam. Ao passo que os considero excelentes em termos de timbre (fato extremamente raro), tanto a presença quanto a extensão não são das melhores que já vi. Eles estão um pouco atrás dos médios – apesar de a progressão até eles ser ótima – e principalmente graves, e por isso, em várias ocasiões acabo sentindo falta de mais brilho, querendo os pratos da bateria uns dois passos à frente.
Mas aqui, mais uma vez, devemos ter em mente a proposta do M-80. Num ambiente barulhento, o isolamento proporcionado por um on-ear é bom mas não faz milagres, e por isso é natural compensar aumentando o volume. E, assim, agudos mais felizes podem acabar gerando grande fadiga auditiva. O V-Moda não tem esse problema, já que os agudos mais recuados permitem que se ouça a um volume mais alto sem qualquer problema com as regiões altas.
O resultado de tudo isso é um fone muito competente, com bom equilíbrio tonal, mas que é um pouco restrito. A personalidade mais fechada e direta, com bastante ataque, é excelente para rock (Foo Fighters que o diga), música pop e eletrônica, mas estilos menos mainstream, como jazz e música erudita, por exemplo, acabam sofrendo um pouco. Para eles, mais espaço e refinamento e menos graves seria muito mais interessante. O resultado é uma apresentação um pouco mais congestionada e confusa, sem o refinamento e a elegância que esses estilos costumam pedir.
CONCLUSÕES
Sinceramente, esses defeitos pouco importam. Afinal, aqui é necessário levar algumas outras coisas em consideração.
O V-Moda Crossfade M80 não é direcionado aos audiófilos – apesar de ter conseguido atingí-los –, e sim a um público consumidor comum. E isso ficou perfeitamente claro durante todo o tempo que passei com ele.
O consumidor comum (seu average Joe, como dizem além-mar) não costuma ouvir jazz ou música erudita num sofisticado sistema high-end. Ele quer ouvir música pop, hip-hop e rock num fone bonito e que seja duradouro, sem maiores pretensões. E, dentro desse cenário, o M-80 é ótimo. Mas seria um erro presumir que ele seja limitado para esse público.
Esse V-Moda é um belíssimo fone, que cumpre seus objetivos realmente bem. Para aqueles que desejam uma boa opção para ouvir música fora de casa, com conforto e muita competência têm no M-80 uma ótima opção. É confortável, tem bom isolamento, vai aguentar as surras do dia-a-dia e tem a sonoridade adequada para esses cenários. Afinal, não podemos esquecer que o contexto tem muita importância. Um Stax SR-007 é um fone de referência, fenomenal dentro de casa num BHSE, mas teria pouco uso na rua se pudesse ser usado ligado diretamente a um iPod. Ele não foi feito para isso, e sua sonoridade de referência de nada adiantaria. Sejamos francos, não há como ser audiófilo andando na Av. Paulista à 1 hora da tarde.
Em casa, ele tem muitos defeitos. Mas o M-80 não tem pretensões audiófilas, e por isso seria injusto exigir uma performance audiófila dele. Não é o objetivo. Seu papel é trazer uma boa sonoridade num belo pacote para qualquer pessoa em qualquer lugar. E isso ele faz muito bem.
Ficha Técnica
V-Moda Crossfade M-80 – US$200,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 28.5 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 105 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 3Hz – 30kHz
Equipamentos Associados:
Portáteis: iPod Classic
Mesa: iMac, MacBook Pro, Cambridge Audio DacMagic, HeadAmp GS-X