Yuin PK1

INTRODUÇÃO

Earbuds não são a melhor forma de se reproduzir música. Não adianta, algumas características infelizmente são inerentes à tecnologia e por isso é muito difícil conseguir uma performance que satisfaça um audiófilo com um. O som deles é sempre pequeno, não envolvente, magro nos graves e com pouco corpo nos médios.

E boa parte deles, para completar, é muito ruim em outros quesitos também. No entanto, existem alguns alguns raros exemplos de fones dessa categoria que tentam quebrar as barreiras da tecnologia e proporcionar uma qualidade de som muito acima da média. O Bang&Olufsen A8, que testei há algum tempo, é um desses fones. Tenho, agora, um outro exemplar que se enquadra nessa categoria: o Yuin PK1. Não sei muito sobre a marca – só que é chinesa e ganhou fama com o modelo aqui avaliado, que é considerado um dos melhores earbuds já feitos. Agradeço imensamente ao Tulio pelo empréstimo!

ASPECTOS FÍSICOS

Aos desavisados, esse é um fone de camelô de 5 reais – não é exagero. Não existe qualquer tipo de refinamento nesse earbud. Acredito veementemente que a marca simplesmente pegou um diafragma de altíssima qualidade e colocou num casco de earbud off-the-shelf de algum fornecedor barato. Bom, sendo justo, o plástico não é de baixa qualidade, e oferece certa resistência. O cabo também é mais grosso e longo que o normal. E só noto isso porque estou sendo chato, até hoje nunca vi um fone tão furtivo quanto esse.

pk1_closeup_5Em compensação, a embalagem já é mais elaborada – é feita de madeira e contém um pequeno potinho de transporte para o fone (mais simples impossível), alguns conjuntos de espumas e um adaptador P2-P10.

O PK1 é confortável, assim como basicamente qualquer earbud, já que simplesmente se senta na entrada do canal auditivo. É leve e não é difícil esquecê-lo ali. O único problema é o cabo, que parece de qualidade mas é pesado para um fone tão miúdo, então ele o puxa mais do que eu gostaria. Também é um daqueles cabos fáceis de embolar. E, obviamente, sendo um earbud, não há encaixe e o isolamento é inexistente. Essa característica surte efeitos na percepção da qualidade de som, mas pode ser vista como algo positivo. Muitas pessoas não gostam do isolamento proporcionado por intra-auriculares, e eu mesmo, que não me incomodo, prefiro a abertura geral proporcionada por um fone desse tipo em termos de conforto.

O SOM

Minha primeira impressão ao ouvir o PK1 foi de puro choque. É impressionante a qualidade de som obtida de um fone desse tipo e com essa cara. O equilíbrio tonal dos médios aos agudos me parece simplesmente um dos mais corretos que já ouvi na vida, e o gráfico do HeadRoom confirmou essa teoria. É basicamente uma linha reta e isso é assustador.

pk1bOs graves, pelo gráfico, também parecem uma linha reta, o que indica que mesmo nessa região o PK1 é exemplar. Mas devo dizer que não é bem assim. Fones desse tipo simplesmente não conseguem gerar graves satisfatórios (exceto o Apple Earpod), porque a quantidade de ar a ser movida por um diafragma muito pequeno é enorme, e o Yuin não é exceção. In-ears limitam essa quantidade através do selamento. O que acontece, também, é que é natural que fones de ouvido tenham um leve incremento nessa região para compensar a ausência de efeitos corporais de graves produzidos por caixas de som. Até fones mais leves, como o HD800, tem esse incremento, que é inexistente no Yuin.

Dito isso, eles são mais presentes do que em earbuds comuns – mais do que no B&O A8, por exemplo – e, quando pressiono o PK1 nos ouvidos, a quantidade aumenta dramaticamente e revela as qualidades das baixas frequências produzidas por ele: impacto excelente, bom corpo, e ótima definição. Não é um grave seco, e pende mais para a apresentação mais melódica do Sony EX1000.

O problema, porém, é que quando deixo o PK1 sozinho, sem pressioná-lo, os graves têm muito pouca presença. Não tem jeito. Sente-se um leve punch, sem corpo ou volume satisfatórios. E, ao contrário do A8, aqui, em alguns casos, isso pode incomodar. Como o resto do espectro é assustadoramente neutro, frequentemente fico querendo compensar a ausência aumentando o volume, o que acaba deixando os médios muito altos e agressivos, causando rápida fadiga auditiva. É como se o fone fosse tão bom em outros quesitos que essa carência de graves fosse inadmissível, e por isso desejo que eles apareçam e para isso aumento o volume. Mas, conscientemente, essa não é a maneira com a qual encaro a situação. Não é que ter poucas regiões baixas seja ruim – é ter médios e agudos com essa qualidade que é absurdo num fone desse tipo. Só que as vezes me esqueço disso e, inconscientemente, estou pedindo mais graves.

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Gráfico de resposta de frequência do PK1

Aos médios: incríveis. São poucos os IEMs com tanta competência nessa região em termos de linearidade. Eles são um pouco destacados, à la Grado, de uma forma igualmente interessante. Essa característica dá a eles uma belíssima capacidade de renderizar instrumentos focados nessa região, como guitarras, vozes e pianos. Eles ganham vida. Nesse momento estou ouvindo a There Is Something do DeYarmond Edison, e todo o sentimento que Justin Vernon colocou em sua voz e em sua guitarra estão a todo vapor.

Aliás, uma coisa que me impressiona muito no Yuin é o detalhamento. Earbuds não são conhecidos pela transparência mas, não sei bem como, o PK1 é um fone extremamente detalhado, e o mais impressionante é que isso não é feito de forma artificial. Esse fone é assustadoramente transparente, e não para um earbud. É transparente sob qualquer parâmetro. E não pára por aí: devido ao fato de ele ser totalmente aberto, o arejamento e o palco sonoro são surpreendentemente bons, muito melhores do que o de muitos intra-auriculares de respeito (como Shure SE535, Westone UM3X…). Há mais respiro.

Nesse momento, devo interromper os elogios e dizer que nem tudo são flores. O som projetado pelo PK1 ainda é pequeno – como em qualquer earbud – e isso é bem notável. Ele simplesmente não consegue projetar um som grande e envolvente, coisa que praticamente qualquer intra-auricular consegue fazer. Full-sizes então… Mas esse é um defeito de earbuds em geral, e não parece ser possível driblá-lo.

o0500037510515478618Outro problema desse tipo de fone é que o som, além de pequeno, normalmente parece não ter muito corpo, e acaba sendo um pouco peaky e crisp. Perdoem-me o inglês, mas eu realmente não consigo pensar numa tradução para essa percepção – espero que eu consiga passar a mensagem. É um som levemente agressivo por natureza. Enquanto o PK1 está léguas à frente de 99,9% de todos os earbuds que eu já ouvi, ele ainda não consegue se livrar totalmente do problema. O som ainda tem uma certa peakiness que o confere uma característica mais seca do que outros tipo de fone, que têm mais corpo e calor nos médios. Não é que o Yuin seja frio, é uma sensação difícil de descrever. Novamente, pressioná-lo contra os ouvidos sana o problema, mas não há como só ouvir música assim. E não é um problema de encaixe também, não é possível colocá-lo de outra forma.

Nos agudos, volto aos elogios. São surpreendentemente bons, e a progressão dos médios até eles é basicamente perfeita. Não há picos ou vales, eles não se destacam mas também não são recuados. Têm a presença absolutamente ideal, com ótima textura e timbre também muito bom. Estou a um passo de dizer que não mudaria nada nos agudos desse fone. É sério.

Ah, e um detalhe que merece atenção. O PK1 não é um fone eficiente. É muito mais difícil de empurrar do que earbuds e até IEMs comuns. Tem 150 ohms de impedância – para os que não sabem, boa parte dos fones portáteis está entre 32 e 50 ohms – e, por isso, apesar da alta sensibilidade, é necessário abrir o volume no player mais do que o normal. Ao contrário de muito do que já li, não acho que um amplificador seja estritamente necessário, mas é sim um benefício a mais. No iPod Classic, por exemplo, ouço em 85-90% do volume.

CONCLUSÕES

pk1_micro3O Yuin PK1 é um fone realmente surpreendente. É um earbud que desafia as limitações tradicionais de um fone desse tipo, e tem o que considero alguns dos médios e agudos mais lineares e neutros que já ouvi. Os graves são bons para um earbud, mas como em todos os outros – apesar de em menor proporção –, não é possível transpassar totalmente as barreiras naturais de um fone dessa categoria. Transparência e palco sonoro também são muito acima da média, e conseguem competir, na minha opinião, com os melhores intra-auriculares independente da faixa de preço.

É um fone mais confortável que intra-auriculares tradicionais, na minha opinião, apesar de não oferecer nenhum isolamento, e tem a vantagem de ser uma das opções mais furtivas para se ouvir música com qualidade sem chamar atenção alguma – sendo morador de uma metrópole relativamente violenta, considero essa uma grande vantagem. Provavelmente um assaltante sentiria pena de quem está com um desses no ouvido, porque qualquer fone moderno que conheço – sim, incluindo fones-brinde de notebooks, celulares, e tocadores mp3 de camelô – é esteticamente mais elaborado que o PK1.

As virtudes sonoras desse Yuin são assustadoras para um earbud, e várias delas estão muito acima de intra-auriculares universais topo de linha, como Shure SE535, Westone UM3X, Sennheiser IE8 e Sony EX1000. Ele é absolutamente fantástico para gêneros que dependam pouco de graves, como música clássica, jazz e gêneros acústicos. E, para completar, ainda se dá muito bem naqueles que dependem disso também, por estar muito acima da média de earbuds normais. Sua performance com música eletrônica e rock por exemplo, na minha opinião, é mais do que satisfatória.

0020490001_2698Mas sou obrigado a dar uma grande freada nesses elogios e dizer que uma recomendação é muito complicada, por um bom motivo: boa parte dessas características estão escondidas atrás de um som pequeno, pouco envolvente e com nenhum isolamento, necessário para uma apreciação mais imersiva da música. E, infelizmente, esses três defeitos são muito mais significativos do que uma incrível desenvoltura nos médios e agudos para boa parte dos ouvintes. Para aproveitar as proezas sensacionais do PK1, é necessário ser muito tolerante a três problemas graves que são inerentes a earbuds – apesar de o Yuin ser um dos melhores já feitos até hoje, se não o melhor, ele ainda é um earbud, e está sujeito a grande parte dos defeitos inerentes a fones desse tipo.

E, afinal de contas, estamos falando de um fone muito caro, numa faixa de preço em que a competição é acirrada. Apesar de 99% dos competidores não serem capazes de competir com ele em alguns aspectos – qualidade dos médios e agudos e equilíbrio tonal –, suas qualidades são muito mais evidentes porque não é necessário passar por cima de alguns problemas sérios para apreciá-las.

Por isso, apesar de considerar o Yuin um fone com virtudes estarrecedoras (sem exagero), reconheço que é necessária experiência na audiofilia para apreciá-las, e uma boa dose de desapego para passar por cima dos seus defeitos.

Mas vou dizer uma coisa: para quem não consegue conviver com intra-auriculares e acha full-sizes nada práticos, não consigo imaginar como um earbud pode ser melhor. Não sei como uma companhia tão pequena conseguiu um feito assim.

Especificações Técnicas

Yuin PK1 – US$159,00

  • Driver dinâmico único
  • Impedância (1kHz): 150 ohms
  • Sensibilidade (1kHz): 108 dB/1mW
  • Resposta de Frequências: 20Hz – 24kHz

Equipamentos Associados

Portátil: iPod Classic, Samsung Galaxy S3

Mesa: iMac, Cambridge Audio DacMagic, HeadAmp GS-X

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