JVC FX700

INTRODUÇÃO

jvc-ha-fx700_topSempre gostei do Japão. Esse país tem uma cultura muito singular, e vários traços dela – meticulosidade, perfeccionismo, ética, herança e respeito –, de alguma forma, por vezes, acabam impregnados em seus produtos. Existe algo que me atrai em marcas japonesas mais obscuras. Cito como exemplo Accuphase, Luxman, Air Tight, Leben… e mesmo marcas comuns e difundidas, de produtos de massa, de vez em quando, têm excentricidades bem interessantes sendo produzidas na matriz. As linhas R (o famoso R10 era membro de toda uma família de produtos high-end) e Qualia da Sony (idem com o Q010), a TAD da Pioneer com suas caixas e amplificadores sensacionais e a linha de TVs Kuro da Pioneer são exemplos. Não sei explicar, mas acho esses equipamentos extremamente atraentes.

A JVC é uma marca conhecida no Brasil pelos sons automotivos, filmadoras, câmeras digitais e micro systems. Mas, em seu país de origem, as coisas são bem mais interessantes. Temos projetores de alto nível, belíssimas caixas de som com cones de madeira e fones de ouvido feitos do mesmo material – como o maravilhoso DX1000 e o in-ear FX700.

Ambos sempre me despertaram interesse – desde minhas épocas de contrabaixo sou apaixonado pela estética da madeira, em suas diversas espécies. Portanto, a ideia de um fone de madeira sempre me deixou curioso. Graças ao Lidson, que intermediou o empréstimo do HD650 e do HD700, estou com um FX700 em minhas mãos. Trata-se de um in-ear dinâmico, que se posiciona acima do famoso FX500. Não está no topo da cadeia dos IEMs universais, custando US$330 – menos que os já famigerados fones com três ou mais armaduras balanceadas.

 

ASPECTOS FÍSICOS

img_5237O FX700 é uma obra de arte. Quase todo o corpo é feito de madeira (me parece jacarandá, ou rosewood em inglês), com acentos em metal prateado e alguns detalhes em dourado. Apenas o suporte da ponteira é feito de plástico. Sei que beleza é muito pessoal, mas acho o FX700, sem a menor sombra de dúvida, não só um dos intra-auriculares mais bonitos que já vi, mas também um dos fones mais bonitos em geral – independente da categoria.

A embalagem também é luxuosa mas relativamente espartana, contendo apenas cinco pares de ponteiras, uma caixinha para transporte e um cabo extensor – o que nos traz ao primeiro problema do FX700. Seu cabo é exageradamente curto. O curioso é que não há indícios de ele ser um “pré-cabo”, como o do Shure SE530 (que na verdade é só uma conexão inicial, onde se conecta extensão, o módulo PTH e/ou um controle de volume). Ele é grande para isso, e pequeno para ser usado até no bolso da calça – e não sou particularmente alto, com meu 1,83 metro. Na minha opinião, é um grande inconveniente. Especula-se que essa característica seja explicada pela venda exclusiva do FX700 no Japão, onde as pessoas são naturalmente mais baixas.

Em termos de conforto, o JVC é surpreendentemente bom. Não esperava isso dado seu formato comum, sem loop por trás da orelha ou outras firulas. Ele não entra muito no ouvido, e simplesmente se senta na saída do canal. Consegui um bom selamento com ele, e ao passo que o isolamento não está no nível de outros IEMs, como UM3X e SE535, ainda é satisfatório, principalmente porque o conforto sai ganhando. Inclusive, nesse quesito, ele me lembra muito mais um earbud do que um intra-auricular comum. Parece aliar o melhor dos dois mundos. Minha única ressalva é o aliviador de tensão, muito grande e reto, que pode incomodar um pouco a orelha. Mas é um pequeno detalhe no que é, facilmente, um dos IEMs mais confortáveis que já usei.

 

O SOM

jvc_ha_fx700_21Devido a alguma associação inconsciente, com motivo desconhecido para mim, penso que madeira significa uma sonoridade quente, suave, com médios líquidos, proeminentes e naturais. Não foi o que achei. Muito pelo contrário: o JVC FX700 tem uma assinatura muito fortemente em V. Graves e agudos acentuados e médios recuados, definitivamente uma assinatura sonora da qual não gosto.

Os graves não me impressionam. Têm suas competências, mas de modo geral são, na minha opinião, um tanto quanto comuns. São relativamente fortes (mais do que considero ideal), com um boost nos médio-graves que garante um bom punch – muito maior do que praticamente todos os IEMs de armadura balanceada que já ouvi. Mas essa não é uma característica que valorizo muito, e já cansei de ouvir graves muito mais lineares, com definição e textura consideravelmente melhores. O Sony EX1000, por exemplo, é para mim uma referência nesse quesito, e dá um banho no JVC em qualidade dos graves. Nele, há uma perfeita combinação entre peso, quantidade e definição. Estão também num perfeito meio termo entra graves secos e mais cheios. O FX700 me parece uma massa vagamente definida com um punch muito forte.

Mas, sinceramente, talvez eu esteja sendo duro demais, e prestando atenção excessiva nos graves. O problema é que, se esse for o caso, há um belo motivo: o recuo dos médios, que acaba alterando a minha percepção de todo o espectro, e consequentemente muda o papel dos graves. Os médios são excepcionalmente recuados, e o resultado, para mim, é desastroso. Na minha opinião, é nessa região que reside a alma da música. E, se um fone não tem competência aí, a situação é grave, porque toda a apresentação fica comprometida. Acabamos com um som sem corpo, frio, com um volume irreal nos graves, um irritante brilho nos agudos e uma grande distância de toda a emoção da música.

¸Essa constatação, inclusive, me veio como uma grande surpresa, porque apesar de eu ter me preparado para uma assinatura em V, li por diversas vezes que a capacidade do FX700 de apresentar o timbre dos instrumentos corretamente é incrível. E, pelo que estou ouvindo, a verdade dificilmente poderia estar mais distante. As minhas referências em realismo – HP1000, HE90, JH13, HD600 e até RS1i em alguns aspectos – estão muito distantes do JVC, principalmente no mais importante, o equilíbrio tonal.

Mas, apesar disso, o FX700 tem seus méritos nessa região. Os médios têm sim um certo calor. Músicas sem tanta atividade, que não evidenciam problemas em sua tonalidade, acabam permitindo que alguns defeitos se escondam, e aí é possível dissecar certas características. Fazendo isso – ouvindo uma boa gravação vocal de jazz, por exemplo –, vê-se que há qualidade nos médios. Eles têm um calor e uma maciez interessantes. Há um caráter distinto nessa região desse fone, algo diferente e agradável nos momentos certos. O grande problema é que é necessário passar por cima de muita coisa para chegar nessas competências. Por quê deixar os médios tão para trás? Isso arruina tudo. Não consigo apreciá-los em 99% dos casos.

E os agudos não melhoram as coisas. Para mim, são excessivamente fortes diante dos médios. Têm um brilho e uma presença irreais. Aliás, nesse aspecto ele possui os mesmos defeitos do EX1000, mas a situação é agravada: além do defeito em si estar um(s) grau(is) acima, não há graves e médios fantásticos para redenção, o que ocorre em seu conterrâneo. Ele possui aquela típica sensação de pressão que ouço nos fones dinâmicos da Sony devido aos médios recuados (e médio-agudos mais ainda) e agudos proeminentes, com picos nas regiões erradas. Quando ouvi um intra-auricular Audio-Technica – não me lembro o modelo, talvez tenha sido o CKM55 – senti o mesmo efeito. Suspeito que seja uma preferência do público japonês. Mas não sou japonês, sou brasileiro, e não gostei do que ouvi. A oscilação dos pratos na I’m Jim Morrison I’m Dead do Mogwai praticamente não existe aqui. Fruto, acredito, de picos e vales nas regiões erradas dos agudos, com uma resultante falta de definição.

jvc-victor-ha-fx700_134826A espacialidade, porém, é interessante. Ela é melhor do que em grande parte dos IEMs de armadura balanceada. Não há tanta precisão no posicionamento dos instrumentos, mas o JVC é capaz de criar uma espacialidade bem convincente. Essa capacidade, aliada à total ausência da sensação de claustrofobia, devido ao bom encaixe, o torna bem resolvido nesse aspecto. Mas, em termos de definição, ele deixa a desejar. Novamente em grande parte por causa do recuo exagerado dos médios, a apresentação em rock me soa confusa e congestionada. Há pouca definição. Entretanto, com estilos menos energéticos, há bom arejamento, definição e transparência. Isso mostra que o diafragma tem uma boa capacidade de resolução, apesar de não ser dos mais rápidos que já ouvi. Porém, mais uma vez, o equilíbrio tonal é o vilão da história.

 

CONCLUSÕES

Fiquei muito decepcionado. O resumo de tudo isso é que o FX700 tem, para meus ouvidos, um equilíbrio tonal totalmente equivocado. E, como já disse algumas vezes, essa é, na minha opinião, a característica mais importante de um fone. Os resultados de um equilíbrio muito alterado são desastrosos. Nada parece real. E aqui, infelizmente, é o que acontece. Estou sempre ouvindo e pensando “não, não é assim.”

050201Não é que ele seja como um Monster Beats. E minha grande revolta é justamente por isso. Um Monster tem o objetivo de agradar as massas, com as colorações que a marca julga apropriadas para esse público. Ele não quer ser realista. Mas o JVC tem o intuito de ser um fone de referência – e a marca tem total capacidade de atingir esse objetivo. Mas parece, infelizmente, para os meus ouvidos, que eles erraram com gosto.

Sei, porém, que há uma grande questão de preferência. Boa parte dessas críticas são afuniladas para a tonalidade desse IEM. Mas sei que existem muitas pessoas que gostam de uma sonoridade mais em V, uma característica que não me agrada. O FX700 a leva a um extremo, o que para mim é sua sentença de morte – mas, pelo que uma breve pesquisa na internet me leva a crer, para muitos é seu grande atrativo. Sinceramente, acho surpreendente tamanha divergência de opiniões quanto a um produto como esse, a partir do momento em que é possível objetivar, até certo ponto, a veracidade do que é apresentado por um reprodutor de áudio. Ouvir esse fone definitivamente me deixou confuso, mas mais certo da máxima “todos ouvimos diferente.”

Para esses ouvidos, o FX700 é um fone seriamente deficiente. Seu equilíbrio tonal o torna incapaz de apresentar com competência gêneros que abranjam uma vasta gama de frequências – gêneros mais frenéticos como rock ou metal. Neles, o resultado é uma sonoridade muito fria e simplesmente errada. E mesmo nos mais calmos, onde a situação é muito atenuada, ele ainda não me soa bem. Ele tem uma personalidade parecida com a do EX1000 mas, para mim, piorada, porque o Sony é excepcionalmente competente em estilos como jazz, pop, música clássica, folk e outros. Há uma total irrealidade no que ouço do JVC.

ha-fx700dPode ser que, para muitos, ele seja muito agradável – e em músicas mais calmas eu até consigo aproveitar o que estou ouvindo, apesar de preferir outro tipo de apresentação –, mas não consigo entender como o que esse fone apresenta pode ser considerado verossímil e bem resolvido timbristicamente. O ouvido humano é naturalmente moldado para amplificar frequências médias. O objetivo da pina (a parte externa das orelhas), com sua forma complexa, cheia de cavidades, é precisamente canalizar os sons para os tímpanos e “isolar” os médios – porque essa é a região onde a voz humana reside. E, em termos evolutivos, é interessante para a nossa sobrevivência que a comunicação seja otimizada. Então é possível dizer que ouvimos mais médios. Como é possível que um fone que atenua severamente essa região seja considerado timbristicamente correto?

Entendo que muitos podem gostar de suas colorações – é a única forma com a qual consigo explicar isso. Muitos gostam de uma sonoridade em V – os antigos Denons D2000, D5000 e D7000, os Beyers DT770, DT880 e DT990 e vários outros fones de sucesso são um atestado disso, e na minha opinião o FX700 é justamente um extremo dessa linha. Mas realista?

Sei que muitos o consideram o rei dos intra-auriculares dinâmicos. Mas, para os meus ouvidos, infelizmente, não passou de uma grande decepção.

 

Especificações Técnicas

JVC FX300 – US$330,00

  • Driver dinâmico único
  • Impedância (1kHz): 16 ohms
  • Sensibilidade (1kHz): 104 dB/1mW
  • Resposta de Frequências: 6Hz – 26kHz

Equipamentos Associados:

Portáteis: iPod Classic

Mesa: iMac, MacBook Pro, Cambridge Audio DacMagic, HeadAmp GS-X

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