Gostaria, mais uma vez, de agradecer ao Jean Polassi, representante da Sennheiser do Brasil e ao Lidson pelo empréstimo!
INTRODUÇÃO
O Sennheiser HD800 causou bastante furor quando foi lançado em 2009. Além de ter sido o primeiro fone “não-exótico” a quebrar a barreira dos mil dólares, era o tão aguardado sucessor do HD650 – aclamado, como visto na última avaliação, como um dos melhores fones da época.
O sucesso foi imediato. Ele é tecnologicamente revolucionário, com seu diafragma em forma de anel, e seu visual totalmente futurista. O HD800 é o melhor fone já produzido em termos técnicos – seu desempenho nesses aspectos é estarrecedor.
Porém, isso não necessariamente significa que ele seja bom para ouvir música. Muitos simplesmente o acham frio, estéril e não envolvente – apesar da horda de fãs. Sou um desses: já tive um, e o achava muito impressionante tecnicamente, mas no final das contas me sentia frio e distante da música. Os graves eram fracos, e a região média e aguda me parecia, de alguma forma, totalmente dissecada e exibida em seus menores detalhes, o que, na minha opinião, não era natural. Ele simplesmente não foi capaz de me emocionar.
O HD700 foi justamente uma tentativa de colocar algo entre as capacidades técnicas do HD800 e a musicalidade do HD650. Um fone que deixa um pouco de lado as proezas para se tornar não uma lente-de-aumento para a música, mas sim uma ferramenta para ouvir música.
ASPECTOS FÍSICOS
A Sennheiser sabe apresentar seus produtos. A embalagem do HD700 não é tão luxuosa quanto a do irmão mais velho, mas não deixa de ser bem feita: a capa externa de papel é muito elegante e apresenta a frase “Truly Excite Your Ears”, e a caixa, quando aberta, revela apenas o fone. Não são fornecidos acessórios – o que é uma pena, porque um adaptador P2-P10 seria muito bem vindo.
O fone em si parece uma versão mais compacta e menos elaborada de um HD800 (o que ele não deixa de ser). Algo como um Range Rover Sport comparado a um Range Rover Vogue. A construção é excelente, e não há dúvidas de que muita engenharia foi dedicada à forma do HD700. Mas os mais chatos vão reclamar, assim como eu, da construção inteiramente de plástico num fone de 999 dólares. Não há madeira ou metal, materiais esperados num produto dessa categoria. Segurando esse fone, não sinto que estou com algo desse preço nas mãos – o que não é o caso com o HD800, HE500, os Stax, os Denons e tantos outros.
No entanto, o plástico tem suas vantagens. A leveza do HD700, aliada à sua precisa execução, o torna facilmente um dos fones mais confortáveis que já usei. Ele é extremamente leve e tanto os pads quanto o acolchoamento do headband são de um tecido muito agradável ao toque. Para completar, as cups, apesar de menores que o do HD800, cobrem totalmente a orelha. O resultado é que, estando acostumados ao HE500 e ao HP1000, o HD700 é uma bênção.
O cabo, aliás, também é surpreendentemente leve. É coberto de tecido, e como é grosso, parece que vai pesar três quilos como o dos Grados atuais. Mas não é o caso. É bem leve. Aliás, é removível, e a conexão é a mais tradicional possível: cada lado possui um conector P1 (um P2 menor) mono e pronto. Nada de mini-XLR ou conectores proprietários. Sinceramente, acho que uma solução como essa é tudo o que se precisa, já que facilita o recabeamento e não há motivo para tornar mais complexo algo que já atinge todo o seu potencial funcional da forma mais simples.
Só não digo que poderia ser melhor por um problema: a entrada é recuada, e há um pequeno recorte reto desenhado para que o cabo não rode livremente. O uso de um P1 faz com que o recabeamento seja ridiculamente fácil, já que esse tipo de conector pode ser encontrado com muita facilidade. E esse recorte exige que o conector seja específico ou então um universal extremamente fino – o que nunca vi.
O SOM
Confesso que minhas expectativas não eram grandes. Primeiro, não gostei do HD800 quando o tive, e o equilíbrio tonal dos dois, de acordo com os gráficos da HeadRoom, são muito parecidos: pouco médio-agudo e bastante agudo. Essas duas características parecem mais fortes no HD700, diga-se de passagem. Segundo, esse fone não foi particularmente bem recebido pelos entusiastas.
Bem, felizmente, comigo foi diferente. Totalmente em desacordo com minhas expectativas, estou absolutamente maravilhado com o HD700.
Apesar do que os gráficos me fizeram esperar, o equilíbrio tonal não me é desagradável. É muitíssimo bem julgado, e o recuo nos médio-agudos não é sentido. Tinha medo disso, porque a característica mais significativa que difere o HD650 do HD600 (e faz com que eu prefira esse último) é, justamente, esse recuo. Durante minha comparação, constatei que vozes soam muito mais encorpadas e próximas no HD600 – no irmão mais novo, elas eram mais distantes e menos definidas.
Porém, acho que essa característica me desagradou no HD650 porque ele é um fone decididamente escuro e, assim como no HD600, há uma granulação considerável, que acaba, junto com outros fatores, gerando uma certa falta de transparência.
No HD700, esse não é o caso. Ele é, sem a menor sombra de dúvidas, um dos três ou quatro fones mais transparentes que já ouvi até hoje. Está, com toda a certeza, no nível dos fones eletrostáticos e acima dos dois ortodinâmicos que já ouvi – HE500 e LCD2 Rev.2. Não sei como a Sennheiser conseguiu isso de um diafragma dinâmico, quanto mais sem as elaborações do HD800. O mais interessante é que, diferentemente do que me lembro do irmão mais velho, isso é feito de forma muito natural. Quando tive o HD800, achei que o nível de detalhes era artificial, o que tornava a apresentação meio leve e “escancarada”, não sei explicar. Aqui, isso não acontece. Se está na gravação, você vai ouvir.
Para melhorar ainda mais a situação, esse Sennheiser também é um dos fones com a capacidade de imagem mais competente que já ouvi. Em nenhum outro fone – repito, nenhum, e quem acompanha o blog sabe o que já ouvi – ouvi tanta diferença entre a espacialidade de gravações diferentes. E mais do que a ambiência geral, o HD700 é capaz de precisar o posicionamento dos instrumentos como nunca ouvi antes.
E, junto com a transparência, temos uma apresentação de um realismo de cair o queixo. Cada instrumento parece um “corpo” individual, real, com tamanho definido, que ocupa um espaço muito específico e preciso na ambiência projetada pelo fone. É totalmente tridimensional. O palco sonoro é perfeitamente extenso para as laterais e possui uma profundidade muito evidente. Pouquíssimas vezes ouvi tamanha verossimilhança nessas áreas. Estou seriamente impressionado com o que ouço do HD700. Me sinto envolvido pelos instrumentos. Acho que só me impressionei com isso dessa forma com o Orpheus. Ele é mais real, obviamente, mas a diferença é que o HD700 é mais preciso no posicionamento dos instrumentos – o Orpheus possui um palco muito mais difuso, e apesar de eu gostar muito disso, estou vendo com seu descendente que o extremo oposto consegue ser igualmente impressionante.
Devo afirmar, também, que essas qualidades pressupõem um equilíbrio tonal muito competente, e é exatamente o que se tem. Graves, médios e agudos de qualidade são pré-requisito para um desempenho nessas outras questões. Mas existem defeitos.
Os graves são muito bem definidos, texturizados e apresentados. Têm bom impacto, mas sofrem de uma carência significativa de corpo. Eles são muito leves. Isso é curioso, porque é a mesma impressão que tive do HD800, e pelo gráfico de resposta de frequência, não é o que se espera – eles parecem até fortes, apesar do roff-off considerável. Minha teoria é que a transparência e o detalhamento extremos, assim como a presença de uma região aguda mais feliz, acabem mascarando um pouco os graves.
Mas isso é variável. Em muitas gravações, sinto muita falta de graves com mais visceralidade, mas em outras, eles têm mais presença – mas nunca tanta força quanto um HE500, por exemplo, ou tanto impacto quanto um RS1i. Eles são sim, na minha opinião, graves leves. O HiFiMAN adiciona uma grande quantidade de atividade nessa região, e consequentemente é muito mais divertido e impactante.
Mas tenho ressalvas ao considerar esse um defeito… assim como os agudos decididamente felizes. Eles são fortes, e podem incomodar e trazer fadiga em muitas gravações. O que acontece quando esse não é o caso é que traz minhas ressalvas.
Em gravações, de referência, o HD700 é espetacular. As coisas simplesmente funcionam. Os graves têm o corpo que desejo, os médios são basicamente perfeitos e os agudos possuem boa presença e as excelentes características timbrísticas que tanto almejo. No final, os três se juntam a todas as outras proezas para criar um resultado irrepreensível. Um misto sensacional de realismo, intimismo e transparência. Essas são as três palavras que melhor descrevem o que acontece quando o HD700 encontra as condições ideais para exibir suas capacidades.
Mas não podemos esquecer que essas condições não são frequentes – e, em gravações menos competentes, o resultado não é tão incrível. Nas ruins, chega a ser desagradável. Com as gravações decididamente calorosas da Madeleine Peyroux, o Virtuoso Guitar do Laurindo Almeida, Kings of Convenience (aliás, as diferentes gravações desse grupo mostram a excelência do HD700 em explicitar diferentes ambiências), Smother do Wild Beasts, Mogwai, Jeff Buckley, Joanna Newsom e também toda a minha coleção de álbuns de referência, o resultado é impecável. Com In Absentia do Porcupine Tree é bom. Já com o Night is The New Day do Katatonia, Watershed do Opeth, não empolga. Californication… insuportável.
Resumidamente, esse é um fone chato, que vai apresentar resultados anormalmente diferentes com gravações de níveis distintos e pode, por consequência, acabar limitando o que se ouve. É muito diferente da habilidade do HD600 ou do HE500 de tocar tudo. Porém, ele atinge um nível de excelência que os outros só podem sonhar. Talvez esse seja um preço a se pagar.
O curioso, no entanto, é que, ao contrário do HD800, o HD700 é um fone fácil de ser empurrado. Testes com o iPod mostraram que, para meu espanto, a maior parte de suas habilidades estão disponíveis já com um simples tocador de mp3. Se um bom amplificador portátil for colocado no caminho, a distância entre um sistema como esse e um de mesa se torna menor e, para boa parte dos casos, desprezível. O único detalhe que basicamente impossibilita o uso portátil é o cabo, longo e um pouco rígido. Aliás, esse fato me deixa ainda mais decepcionado com o recorte no conector P1. Não fosse por isso, um recabeamento, que deixaria o uso portátil muito mais conveniente, seria extremamente simples. Quer dizer, se não contarmos com a falta de isolamento e o vazamento bem considerável.
CONCLUSÕES
O HD700, ao contrário do que esperava, definitivamente me impressionou, e isso me confunde um pouco. Acho curioso, dado o equilíbrio tonal muito parecido, que eu tenha ficado tão maravilhado com ele e não tenha gostado do HD800 quando o tive. Não sei se isso aconteceu por causa do efeito do GS-X no meu sistema – que revela melhor as nuances de seu desempenho –, ou ainda porque estou em outro momento. O que sei é que quero muito ouvir o irmão mais velho mais uma vez.
Não posso dizer que o HD700 é um fone para tudo e todos. Infelizmente ele não é. Primeiramente, existem os problemas físicos – alguns vão se incomodar seriamente com a sensação de ele ser um fone barato. Sonicamente, seu nível de transparência faz com que ele coloque um holofote nos problemas da mídia, e sua carência de graves e relativo excesso de agudos, que se fazem presentes em muitas gravações (quanto menos bem gravado, maior a proporção do problema), o tornam basicamente impeditivo em muitos casos.
Mas o que impressiona é o que acontece quando tudo se encaixa. É uma elegância e um refinamento sem fim, que compreendem uma combinação estarrecedora de transparência, intimismo e realismo. Sennheiser, meus parabéns.
Especificações Técnicas
Sennheiser HD700 – R$4.599,00 (US$999,00)
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 150 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 105 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 14Hz – 40kHz
Equipamentos Associados:
Portáteis: iPod Classic
Mesa: iMac, MacBook Pro, Cambridge Audio DacMagic, Electrocompaniet ECD-1, JVC A-S5, HeadAmp GS-X, Melos SHA-1
Onde Encontrar