INTRODUÇÃO
Todos temos que admitir a influência da Monster. Hoje é praticamente um monopólio. Mais de 60% das vendas de fones de ouvido de mais de 100 dólares pertence à marca, feito conseguido através de um grande esforço de marketing aliado a um design interessante de seus produtos – que são vistos com frequência alarmente nas grandes cidades. A questão é que os Beats by Dr. Dre não são apenas um fone, são um acessório de moda que tenta garantir estilo e status. Por isso, são vistos com muito mais frequência no pescoço das pessoas do que nos ouvidos.
Eu, sinceramente, não me incomodo com isso. Não tenho o menor problema com um item que tem como puro objetivo mostrar estilo e status. Mas tenho problema quando a marca afirma vender mais do que isso. E é exatamente o que a Beats faz com sua linha.
De acordo com ela, seus fones estão entre os melhores do mundo em termos de qualidade sonora, e frases como “ouça a música como o artista quis” e “as pessoas não estão ouvindo toda a música” são proferidas com muita propriedade. E sinto muito: os Beats estão muito, mas muito longe de entregar isso.
O Solo HD é o full-size mais barato da marca, e sem dúvida alguma o que apresenta a pior qualidade de som. Sendo sincero, os outros não são tão ruins, são apenas extremamente coloridos e terrivelmente caros para o que oferecem. O Solo não; esse é pavoroso independente do preço.
ASPECTOS FÍSICOS
Esteticamente, o Solo não me desagrada. Não acho bonito, é chamativo demais para o meu gosto (o que tenho aqui é branco com acentos em vermelho), mas consigo entender o apelo. De fato, é um fone estiloso. Não há materiais muito impressionantes, apenas plásticos. Mas a construção parece razoável, os materiais são agradáveis ao toque, o fone é confortável e o isolamento é bom. O Solo HD também é conveniente, já que pode ser dobrado e, com isso, consegue ser guardado com muita facilidade.
Entretanto, após algum tempo de uso as coisas começam a aparecer. A durabilidade é péssima. Esse fone que tenho em mãos é de um amigo extremamente cuidadoso com suas coisas, e o estado em que se encontra é triste para algo de menos de dois anos. A tira de borracha do headband se soltou e deixou a espuma exposta e os pads já estão se desintegrando. Além disso, na minha opinião o plástico do qual praticamente todo o fone é feito me passa a impressão de ser muito frágil e barato. Não parece um plástico de qualidade com o que encontro em muitos outros fones.
Uma boa adição é o cabo removível. Apesar de serem sim muito caros para o que são e de a marca ter práticas repulsivas com a concorrência (busquem por Monster vs. BlueJeans no Google e vejam a história), os cabos da Monster são de boa qualidade, e ser removível – através de um sistema bem interessante, há plugues P2 em ambas as terminações – é sempre bom. O Solo HD vem com dois cabos, um com microfone e controles para celular e o outro comum.
O SOM
Primeira impressão: cruzes.
Bom, vou começar falando dos graves. É muito comum aumentar um pouco os graves em fones de ouvido, quanto mais se estivermos falando daqueles sem pretensões tão audiófilas. Sabe-se lá por quê, mas é o que as pessoas gostam. Graves com força. Então é de se esperar que um fone com o apelo do Solo tenha essa região acentuada, certo? Ouvindo, a teoria fica confirmada. Tentaram fazer isso, mas falharam com muito gosto.
O normal, ao se fazer um boost nos graves, é aumentar a região do bumbo da bateria, da batida de músicas eletrônicas. É aí que reside o impacto visceral que tanto agrada as pessoas. O Solo, no entanto, tem seu boost numa região que não tem nada a ver com essa, e o resultado é terrível. É um incremento que não faz nada além de embaralhar toda a apresentação. Ela fica suja, indefinida e desbalanceada. Há um borrão no meio de todas as músicas arruinando absolutamente tudo. E não para por aí: essa anomalia gera um efeito muito engraçado – é como se o fone todo tremesse, mas não é uma tremedeira de um grave subsônico, parece de ressonância, e o ouvido acaba tremento de uma maneira muito peculiar… sério, o que é isso?
E aí você se pergunta: e abaixo disso, os graves reais? Bom, eles não estão lá. Quer dizer, até estão, mas têm um roll-off considerável e há muita interferência dos médio-graves sobre os quais falei acima. Aliás, por falar em interferência, os médios também são totalmente estragados. Sozinhos não acho que eles sejam tão ruins, parece haver alguma clareza, mas isso não adianta nada quando temos um cobertor por cima deles – são os “graves”.
Esse cobertor, inclusive, está firme e forte sobre os agudos também. Quer dizer, não sei se é isso ou se eles não existem, porque não consigo ouvir. Não há extensão, brilho ou transparência. A apresentação simplesmente pára após os médios. A sensação dessa ausência de agudos aliada à nuvem negra dos “graves” é a de um velo absoluto. Estou com um Sennheiser HD650, amplamente considerado como um fone muito velado, emprestado. Basta dizer que colocá-lo no ouvido após ouvir o Solo HD faz com que ele se pareça com um Stax SR-202, um dos fones mais transparentes que já ouvi até hoje.
Sei, porém, que há uma intenção nisso tudo. Aumentar graves e diminuir agudos acaba tornando a apresentação mais adequada para arquivos de baixa qualidade e para gêneros como música eletrônica, rap e hip-hop – justamente o que o público alvo desse fone deve ouvir –, além de permitir um volume elevado sem tanta fadiga auditiva. Só que essas colorações são muito mal feitas. Os “graves” são uma piada de mal gosto, os agudos não existem, e o resultado é uma sensação incrível de desconforto, porque parece que só estou ouvindo 30% da música. Realmente Dr. Dre, “as pessoas não estão ouvindo toda a música”. Tenho que concordar com você.
Acho que não preciso perder tempo falando sobre palco, arejamento e dinâmica, não é? Que bom. Porque não há. Quer dizer, até existe uma sensação de espaço mas, por causa do equilíbrio tonal esquizofrênico, ela parece uma pintura surrealista: não faz o menor sentido.
CONCLUSÕES
Fico muito triste com o Solo HD. O problema não é ele ser ruim, muitos fones o são. O grande problema é que, por causa da propaganda ostensiva da marca, a crença na superioridade dos Monster parece já estar enraizada na cabeça de muita gente. Elas acham que têm o ápice da reprodução sonora em seus pescoços, equipamentos usados pelos melhores músicos nos melhores estúdios.
E a questão é que um Koss Porta Pro está léguas à frente desse Beats em termos de qualidade de som. O Solo HD é definitivamente um péssimo fone. Não chega perto de uma apresentação balanceada e natural, e mesmo se considerarmos fones mais coloridos e para o público geral, como os V-Moda, os Philips e os Skullcandy atuais, esse Beats ainda é sofrível. Tem uma deturpação do que são graves, transparência e clareza inexistentes e carência total de agudos. O que se ouve nesse fone não lembra em nada o que está na mídia, e muito menos o evento original.
Mas, por estarem acostumadas aos fones que vêm com seus tocadores de mp3, as pessoas ficam impressionadas com o Monster – afinal, obviamente, ele é sim melhor do que earbuds de dez dólares. Mas nós não estamos aqui falando de um fone substituto de trinta dólares, e sim de um de duzentos que se diz um dos melhores do mundo. E as pessoas acreditam. Esse é o problema.
Os Beats não fizeram bem ao hobby, fizeram muito mal. Apesar de eles terem feito a ideia de se pagar mais de cem dólares num fone parecer aceitável – o que é ótimo –, elas o fizeram com produtos que considero desonestos, por usarem um discurso falso (e sinto muito, nesse caso isso não é subjetivo), e estão fazendo um disserviço às pessoas por estarem as educando mal, fazendo-as crer que essa é uma boa reprodução sonora.
Lamentável.
Monster Beats SoloHD – US$199,00
Equipamentos Associados: iPod Classic, iMac, Cambridge Audio DacMagic, HeadAmp GS-X