Bose IE2

INTRODUÇÃO

bose_ie2A maioria dos audiófilos levanta uma sobrancelha ao ler o nome Bose. O problema é que essa é uma daquelas marcas de som que se encontram, em termos de preço, acima das mais comuns, enquanto fazem pesadas propagandas, ressaltando uma teórica qualidade incrível de áudio (lembra dos Monster Beats?). E, na realidade, não é bem assim. A Bose conseguiu fama, e está frequentemente na cabeça do consumidor comum como uma das melhores marcas de som existentes, mas muitas vezes é perfeitamente possível conseguir mais por menos. Entretanto, por vezes, alguma coisa boa sai do forno. O objeto dessa avaliação é uma delas: o Bose IE2.

Coincidentemente, minha jornada na audiofilia começou com o Bang&Olufsen A8, e algum tempo depois ele foi substituído pelo antigo Bose IE. Eu estava apenas começando, e à época considerei uma boa troca, mas hoje acho incrível como um fone pode ser tão ruim. O som é uma massa indefinida, com médios-graves esquisitíssimos e sem timbre, que encobrem todo o resto do espectro. Há apenas resquícios de agudos, e o que existe não tem definição alguma, o que também ocorre com os médios. Terrível.

Portanto, imaginei que o IE2 seria mais do mesmo, um fone que serviria apenas para me fazer rir. Mas não foi o que aconteceu.

 

ASPECTOS FÍSICOS

Bose IE original

Bose IE original

Os dois IEMs da Bose, na verdade, não podem exatamente ser classificados como intra-auriculares, porque não selam o ouvido. É um sistema inusitado, já que os fones possuem uma borracha, como os IEMs, mas ela senta no canal como um earbud comum e o isolamento é quase inexistente. Esse pode ser um grande defeito, mas para muitos, tenho certeza de que é uma belíssima vantagem. Conheço várias pessoas que não gostam de intra-auriculares, e o Bose acaba ficando entre eles e earbuds comuns: tem o arejamento e o conforto de um earbud, mas com algumas características sonoras de IEMs.

O conforto é acima da média, já que as borrachinhas, apesar de um tanto estranhas, se acomodam muito bem nos ouvidos. Elas, ao contrário de no IE original, possuem uma protuberância na parte de cima, que se encaixa no ouvido e promovem um encaixe mais seguro do fone. Esse nunca foi um problema grave para mim no intra-auricular antigo, mas de toda forma essa é uma melhora muito bem-vinda.

A construção é simples: ele é quase todo feito em plástico, com algumas partes cromadas. O cabo é emborrachado e aparenta ser bem resistente, mas o esquema de cores em preto e branco me desagrada bastante, porque chama muito a atenção. A embalagem é simples, e ele acompanha uma caixinha para transporte e dois pares de ponteiras de cada tamanho: pequenas, médias e grandes.

 

O SOM

hgeew3vezsPude ouvir um IE2 numa viagem, num estande da Bose, e fiquei positivamente surpreso. Ele é, na minha honesta opinião, excelente. Agora, estou com um em minhas mãos e posso avaliar mais criteriosamente.

O que ouvi era muito diferente do IE original: uma sonoridade balanceada, com graves fortes mas no lugar certo, e um caráter melódico e realmente quente. Não teria medo de chamá-lo de um dos fones naturais nessa faixa de preço. Nela, é comum termos fones dinâmicos com aquela sensação de pressão que já descrevi diversas vezes – comum nos Sony –, ou com uma assinatura em V, forte em graves e agudos, que normalmente me soa longe de natural. No extremo oposto, temos os de armadura balanceada, com médios abertos, mas granulados, e com problemas de extensão. Ainda podem ser interpretados como naturais, mas é uma naturalidade diferente.

Já o Bose, surpreendentemente, é cheio e caloroso. A começar pelos graves, parte fundamental dessa personalidade: é engraçado que um fone aberto como ele possa apresentar graves com essa quantidade e qualidade. No antigo, era um desastre. Aqui, eles têm ótimo peso e presença. Pode passar um pouco do ponto em alguns casos, mas nunca são intrusivos. Nesse quesito, ele me lembra um pouco o HiFiMAN HE500. Logicamente, não há como comparar a qualidade dos dois, mas em termos de quantidade, são parecidos.

Os graves são bem texturizados e com bom detalhamento, e apresentam uma interessante união entre peso e impacto seco: muitas vezes, essas duas características não convivem juntas, já que um impacto puro e seco é fruto de uma sonoridade seca nessa área – e peso vem do contrário. Mas, aqui, temos os dois bem juntos, o que só costuma acontecer em fones extremamente sofisticados. Vale dizer, porém, que eles não são perfeitos. Falta uma última gota de definição e aquela formação perfeita entre textura e gordura que fones como o JH13 e HE500 mostram tão bem. Mas, para essa faixa de preço e para um fone desse tipo, acho difícil pedir mais do que é oferecido.

O mais impressionante, porém, é a extensão, que não fica devendo a nenhum outro intra-auricular que eu já tenha ouvido. Como fizeram um IEM aberto com tanta extensão? A faixa Dark Spaces, do EP Actaeon, do DFRNT, é um exemplo disso. As notas mais graves não perdem fôlego e o IE2 consegue apresentá-las com maestria.

big_boseie2_ipodOs médios continuam a impressionar. A posição no espectro, frente aos graves e agudos, é basicamente a ideal, e a apresentação é muito mais suave do que a do Ultimate Ears UE600, como é de se esperar de um bom dinâmico. Ele fica devendo em detalhamento, mas também está bem longe de ser um fone que esconde detalhes. Os médios são realmente doces e suaves, sendo certamente o que eu chamaria de bem próximos da neutralidade. A única coisa – e esse é o único defeito mais significativo que vejo nesse Bose – é que há um pico nos médios que dá um efeito de “grito” em alguns casos, o que gera uma agressividade. Por exemplo, na obra prima Mojo Pin, do Jeff Buckley, em alguns trechos a voz se torna excessivamente alta, por se localizar justamente numa área de pico do IE2.

Não é um problema grave – essa característica é muito presente no Grado HP1000, mas no caso dele compõe sua assinatura geral com perfeição –, mas que pode incomodar em alguns gêneros, já que o resultado pode forçar o ouvinte a reduzir o volume para compensar.

Uma vantagem do IE2 é também a espacialidade, o que provavelmente se deve ao fato de ele ser um fone aberto. Esse é um fone com bom palco. Não é que ele seja grande e com instrumentos perfeitamente posicionados – mas o arejamento é muito bom, e nunca causa qualquer sensação de claustrofobia.

Já os agudos são um pouco mais complicados, porque os considero excelentes, mas não há como negar que são recuados, o que pode incomodar alguns. Ele é, como já disse, um fone muito suave, e esses agudos recuados compõem esse caráter. O problema é que, de fato, em algumas situações pode faltar brilho. Essa faixa de frequência nunca vai chamar atenção. É parecido com o Grado HP1000 nesse aspecto, em termos de quantidade.

O timbre também é muito bom nessa região, com bom corpo – o que, como digo em praticamente todas as avaliações recentemente, é muito difícil de achar. A clássica I’m Jim Morrison, I’m Dead, da Mogwai, que uso como teste para agudos, é um claro showcase da performance do Bose nessa região: os pratos são consideravelmente recuados, mais do que eu gostaria, mas em termos de timbre, temos uma ótima performance. De toda forma, acho que os agudos do IE2 são ótimos, e se são recuados, não lembram em nada o recuo e falta de extensão do SE535 – no final das contas, compõem de forma excelente sua sonoridade geral. A extensão não é das mais incríveis, mas cumpre seu papel.

Bose_MIE2_440x330Em termos de detalhamento geral, ele é satisfatório. Não é um monstro, mas sinceramente, ele nunca parece velado, e parece que a prioridade é a naturalidade – característica que ele possui aos montes.

Devo também falar sobre um pequeno detalhe: esse fone é bem ineficiente. Não é que um amplificador seja necessário em termos de qualidade sonora, mas no meu iPod Classic, tenho de colocar o volume no máximo ou próximo dele para atingir um volume satisfatório. Sei que parte disso se deve ao fato de praticamente não haver isolamento, mas não há como negar que aqui há uma certa ineficiência. Isso não vai ser problema num iPhone, por exemplo, que possui bastante volume na saída, mas no iPod Classic, pode ser um problema para aqueles que escutam num volume mais elevado.

 

CONCLUSÕES

Não há como esconder que fiquei muito impressionado com o Bose IE2. Não conheço muita coisa (se é que eu conheça alguma) que supere sua naturalidade, que mistura doçura com peso e autoridade, em faixas de preço parecidas. Realmente acho que a marca fez um fone incrível, que entrega uma performance bem acima da média.

É uma sonoridade muito confortável, que se adequa bem a qualquer estilo musical de maneira excelente: jazz, rock, música eletrônica, música clássica… tudo fruto de um belíssimo equilíbrio tonal, com graves ótimos, presentes e com boa definição, médios excelentes e agudos doces e levemente recuados.

Bose_IE2_Headphones-1_1_440x330Não quero que o leitor ache que eu esteja falando sobre o fone mais natural já produzido – longe disso –, mas mantendo o preço em perspectiva, e seus competidores, não há como não se impressionar. Apesar de ele (como é de se esperar) perder em algumas áreas mais técnicas, acho que o maior elogio que posso fazer é dizer que não pensaria duas vezes em pegar o IE2 antes de várias alternativas muito mais caras: e coloque aí Shure SE530/535, Westone UM3X e Sennheiser IE8. Ele me soa menor e menos complexo, mas ao mesmo tempo mais correto em boa parte das situações e, se não consegue impressionar tanto em aspectos positivos, impressiona por praticamente não apresentar aspectos negativos. Não tem o velo do Shure, a nuvem nos médio-graves do Westone e a tsunami de graves do Sennheiser. Sabe ser doce, mas também sabe ter energia.

A única coisa que pode ser encarada como um problema grave é a falta de isolamento, que o torna não tão efetivo em ambientes mais barulhentos, problema que se acentua pela relativa ineficiência. Mas, para aqueles que não se importam com isso, realmente não tenho do que reclamar. E, para os que não suportam IEMs, mas não gostam da apresentação pequena dos earbuds, não tenho como recomendar o IE2 o suficiente.

Bose, não sei se isso foi um acidente, e odiaria inflar seu ego, mas, sinceramente, meus parabéns!

 

Especificações Técnicas

Bose IE2 – R$476,10 / US$99,00

  • Driver dinâmico único
  • Sensibilidade (1 mW): Não informado
  • Impedância (1kHz): Não informado
  • Resposta de Frequências: Não informado

Equipamentos Associados:

iPod Classic

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