INTRODUÇÃO
Não é mistério que profissionais de áudio e músicos são bem diferentes de audiófilos, mas é engraçado que haja uma distinção muito evidente entre fones voltados para o mercado audiófilo e para o mercado profissional. Me parece que as exigências são diferentes, e estes têm a preocupação de serem apenas corretos, com um equilíbrio tonal bem julgado, enquanto aqueles têm maiores pretensões: palco sonoro, arejamento, detalhamento extremo, eufonia, e por aí vai. Além disso, é difícil encontrar fones profissionais exorbitantes – o Stax 4070 é o único que conheço.
Existem exceções, fones que extrapolam as barreiras e são igualmente usados por ambos os lados – como o famosíssimo JH13Pro e outros monitores customizados. A questão é que os audiófilos os descobriram como o verdadeiro ápice da reprodução musical em in-ears. Mas esse é um caso isolado, e em full-sizes isso não costuma acontecer.
De toda forma, sempre tive boas experiências com eles, que apresentam uma bela maneira de escutar uma boa música por um custo acessível – aliás, o custo benefício me parece ser o forte deles. Também são sempre muito resistentes, o que é necessário visto que eles foram feitos para trabalhar nas trincheiras.
Vou avaliar dois bons exemplos de fones profissionais: os AKGs K240 MKII e K271 MKIIl, ambos voltados para o uso em estúdio, sendo o primeiro semi-aberto e o segundo fechado, para aplicações onde o vazamento de som é inadmissível – como no caso de monitoração em estúdio.
ASPECTOS FÍSICOS
Sendo puramente voltados para o mercado profissional, a robustez é imprescindível, e isso fica claro desde o início. São dois fones construídos de plástico, sem excessos ou frescuras, com cabos removíveis e já incluem não só um segundo cabo, mas também um segundo set de pads. Cada um acompanha um cabo normal e outro de mola, como telefones antigos, o que reflete suas vocações profissionais. São cabos que
aparentam serem capazes de aguentar um bom tempo de abuso. Os pads inclusos seguem o mesmo padrão – cada fone acompanha um pad de cada, um de veludo e um de courino. Acho os pads de veludo mais confortáveis, com o toque mais agradável, e não fazem com que a pele sue muito em dias quentes.
Eles também acompanham um adaptador P2 – P10, do tipo rosca, que se atrela muito seguramente ao cabo. Novamente uma das vantagens de fones profissionais. Esse é um adaptador que dificilmente será perdido. Fora os acessórios, não se tem muito: a caixa dos dois é basicamente igual – apenas uma embalagem de papelão suficiente para deixar os fones relativamente seguros e só
Os dois são circunaurais e bastante confortáveis, exercendo uma pressão muito leve nas laterais da cabeça, mas essa característica, aliada ao fato de os pads não serem particularmente volumosos, resulta num isolamento mediano no K271 e fraco no K240, o que é de se esperar visto que é um fone semi-aberto. O fato de ele vazar mais também não é uma surpresa.
O SOM
Peguei o K271 MKII numa troca que fiz com um amigo, e recebi uma gama interessante de fones: Sennheiser HD600, Beyerdynamic DT880 Premium, Grado SR-225i, Klipsch X10i e o AKG. Desses todos, o AKG foi definitivamente o que mais me impressionou.
O que encontrei foi uma sonoridade muito balanceada, se um pouco centrada nos médios, com bom peso nos graves, agudos presentes e médios realmente corretos. Tudo isso num fone robusto e confortável, e com um preço relativamente acessível. Quando ouvi o K240 (Rodrigo, ficam aqui meus imensos agradecimentos pela oportunidade!), encontrei boa parte dessas características por um preço ainda mais baixo. Parece que a AKG tem dois fones excelentes aqui.
A área dos graves é aquela que apresenta a maior diferença entre os dois. O K271 é mais linear nessa área, apesar de apresentar um roll-off considerável, enquanto o K240 apresenta um pequeno incremento nos médio-graves, o que resulta numa apresentação um pouco mais suja nessa região. É curioso que o fone fechado tenha graves mais secos que um semi-aberto, mas é o que acontece. O kick do bumbo é mais convincente no K271, que apresenta mais pegada e controle. Em termos de textura, a situação se repete: o fone fechado é um pouco melhor, tendo graves com mais substância, o que proporciona uma melhor clareza nessa região – apresentando, consequentemente, uma texturização mais interessante. Não é que o K240 não seja bom – ele é, mas em comparação com o K271 os graves são mais vazios e mais “ocos” de certa forma.
Em termos de extensão, os dois são de certa forma deficientes, não conseguindo alcançar com vontade os registros realmente baixos, como na música Midnight Runner, da banda inglesa de drum’n bass Pendulum. Nesse quesito, não encontrei diferenças significativas entre os dois fones.
Nos médios, a situação se equipara. Os dois são excelentes nessa região e apresentam médios calorosos, com excelente presença. No entanto, são duas apresentações diferentes e escolher entre um e outro vai acabar sendo questão de gosto. O K271 tem médios mais presentes e consideravelmente mais quentes, enquanto no K240 eles são um pouco mais distantes – característica acentuada pelos seus agudos mais proeminentes. É como se o K271 fosse mais próximo do Sennheiser HD600 e o K240 do AKG K701.
O semi-aberto é mais frio, um pouco mais distante, e com uma assinatura sonora consideravelmente mais em V, enquanto o fechado é mais vigoroso, com mais corpo, e mais intimista. Entre as duas interpretações, o que decide é gosto. Conheço muitas pessoas que prefeririam o K240, e muitas que prefeririam o K271. De toda forma, as características principais dos médios – neutralidade, transparência e detalhamento são muito parecidas nos dois fones, e não há como indicar um ganhador.
Nos agudos, a situação é parecida: o K240 tem agudos muito mais proeminentes, mas em compensação existe um pico que os torna excessivamente agressivos em algumas situações. Esse pico pode tornar alguns gêneros muito interessantes, como por exemplo peças acústicas do Kings of Convenience. Nesses casos, o brilho extra dá uma interpretação diferente da música, que não apresenta o calor do K271 mas é de qualquer forma muito agradável. Mais uma vez, temos uma questão de preferência. Se você prefere agudos mais proeminentes, não pense duas vezes e vá no K240 – seu irmão fechado pode decepcionar.
Em termos de detalhamento, os dois são parecidos, já que o K240 apresenta mais detalhes nos registros mais altos – e é mais agressivo por isso – enquanto o K271 os mostra nos médios, que são mais presentes e têm melhor texturização. Quanto ao palco sonoro, esperava que a diferença fosse mais significativa. O semi-aberto tem uma espacialidade mais acentuada, mas a diferença é realmente pequena.
CONCLUSÕES
Temos aqui dois fones muito parecidos mas que apresentam interpretações diferentes das músicas. O K271 é mais quente, mais íntimo e, na minha opinião, mais refinado. Tem graves melhores, médios mais próximos e agudos mais lineares e comportados. A sonoridade geral é mais firme, por assim dizer, com mais autoridade. Já o K240 é mais frio e distante (esses não são defeitos, quero deixar bem claro – são características, que muitos preferem, diga-se de passagem), com graves com menos desenvoltura, ótimos médios e agudos mais presentes, se mais ríspidos em algumas ocasiões.
Como já foi dito, fora nos graves, escolher entre um fone e outro vai ser puramente questão de gosto pessoal. O K271 é, na minha opinião, superior, mas acho perfeitamente compreensível que não o seja para muitos outros audiófilos. O K240 possui uma apresentação mais distante, leve e elegante que, não tenho dúvidas, pode agradar mais em diversos gêneros.
O que podemos concluir é que são dois fones profissionais que têm como ponto forte o custo benefício. Viveria tranquilamente com qualquer um dos dois como meus únicos fones, já que são excelentes all-rounders e conseguem se sair muito bem em basicamente qualquer estilo musical.
Se compararmos o preço dos fones lá fora, eu ficaria com o K271 sem a menor dúvida, já que ele se adequa melhor ao que eu, pessoalmente, procuro num fone de ouvido. No entanto, aqui no Brasil frequentemente a história é diferente, e encontramos o K240 por R$600 e o K271 chegando a custar inacreditáveis R$1.140. Nesse caso, não faz o menor sentido optar pelo mais caro, visto que a diferença de forma alguma justifica a diferente apresentação, e muito menos os meros 30 dólares de diferença entre os fones no exterior. E mesmo quando a diferença de preço é menor, ela ainda é considerável em lojas de equipamentos profissionais, e aí o K240 é definitivamente a melhor opção.
NOTA: O preço dos dois fones no Brasil é muito variável, então coloquei os preços americanos.
Ficha Técnica
AKG K271 MKII – US$ 229,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 55 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 91 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 16Hz – 28kHz
AKG K240 MKII – US$ 199,00
- Driver dinâmico único
- Impedância (1kHz): 55 ohms
- Sensibilidade (1kHz): 91 dB/1mW
- Resposta de Frequências: 15Hz – 25kHz
Equipamentos Associados:
HiFiMAN HM-801, iPod Classic, Meier Audio Eartube e Cambridge Audio DacMagic.