Impressões de um micro-meet

Como disse no post do dia 8 de Dezembro, me encontrei com o Hugo Freire para realizarmos alguns testes e comparações dos equipamentos que estavam em nossas mãos. Só nos dois estávamos presentes, e um encontro desse tipo é provavelmente o melhor para testar sistemas – já que podemos ouvir o quanto quisermos, sem pressa ou pressão. Aí vão as impressões do que ouvi:

 

Sennheiser Orpheus + HeadAmp Aristaeus + Electrocompaniet ECD-1 + MacBook Pro com M2Tech Hiface

O lendário Sennheiser Orpheus

O lendário Sennheiser Orpheus

Para quem não sabe, trata-se de um eletrostático feito pela Sennheiser, e é considerado por muitos como o melhor fone já produzido. É, também, até hoje, o mais caro.

É um “não-fone”. Digo isso porque ele não soa como um fone, a sensação que dá é como se ele não fosse nada além de uma janela aberta para a música. O Orpheus não interpreta – ele apresenta. Os graves, aliás, são os melhores que já ouvi em qualquer lugar, fone ou caixa de som – e olhem que já ouvi bastante coisa!

Minha única ressalva (e é pequena) é que em alguns estilos ele tem mais agudos do que eu, pessoalmente, gostaria. Mas é o tipo da coisa fortemente dependente da gravação, e pode ser resolvida com uma fonte diferente. Dessa vez não cheguei a testar com o EMM Labs CDSA do Hugo porque queria ouvir o fone com músicas com as quais sou mais familiar, mas sei que o CD player é definitivamente superior ao DAC Electrocompaniet.
Ouvir o Orpheus é uma experiência única: ele sai do caminho, é você e a música. É ouvir para crer! Um imenso obrigado ao Hugo por tornar essa experiência possível!

 

AKG K1000 + Meier Audio Eartube/Little Dot MKVI + Electrocompaniet ECD-1 + MacBook Pro com M2Tech Hiface

Little Dot MKVI

Little Dot MKVI

Não vou me estender sobre o AKG porque futuramente farei um review e esse é um post com breves impressões. Mas o K1000 encanta principalmente pelo imenso palco sonoro, muito mais próximo ao de monitores near-field do que de fones de ouvido comuns, e pela neutralidade. Porém, pode soar ríspido em muitos casos e com os médios mais para frente do que deveriam, apesar da tonalidade relativamente neutra.

O Meier fez um excelente trabalho, sendo o melhor amplificador que já ouvi com o K1000, salvo pelo integrado Marantz PM-11S2 (que não ouço há um tempo, então não lembro se é melhor ou não). O Eartube tem uma personalidade realmente quente e doce, o que é um grande contrapeso à agressividade e “forwardness” do AKG. O ECD-1 também tende ao relaxamento, e o sistema ficou muito bom, com grande sinergia entre os componentes. O Little Dot MKVI também tem boa sinergia com o K1000, mas por um motivo diferente: enquanto o Meier cuida da agressividade com a sua sonoridade mais doce, o LD faz isso com os médios relativamente recuados.

De toda forma, o Meier soava muito mais real e natural – as vozes têm mais corpo e soam mais humanas. No Little Dot, a apresentação era mais estéril e puxada para o agudo. No entanto, ele apresentava mais detalhes, então tenho certeza que é possível que ele consiga uma melhor sinergia com outros fones em relação ao Eartube.

 

AKG K702 + Meier Audio Eartube/Little Dot MKVI + Electrocompaniet ECD-1 + MacBook Pro com M2Tech Hiface

Meier Audio Eartube

Meier Audio Eartube

O K702 é igual ao K701 – com uma avaliação já publicada –, com exceção da cor azul e do cabo removível. É um fone com uma sonoridade realmente elegante, com graves que podem ser interpretados como tímidos mas presentes, extensos e com textura surpreendente, médios líquidos e neutros e agudos transparentes, definidos e com um bom timbre mas, em algumas situações, fortes e desproporcionais em relação aos médios e graves.

Com esse fone, a vitória do Meier ficou mais clara. A questão é que o K702 é naturalmente mais frio e tem agudos fartos, que podem soar ríspidos no sistema errado. O Little Dot faz um belo trabalho com ele, trazendo volume e vontade aos graves mais tímidos do fone com sua potência cavalar. O Eartube, em compensação, é ainda mais potente e traz a vantagem de ser decididamente mais quente, sendo consideravelmente mais orgânico com o AKG. Nesse set, a voz do vocalista numa faixa do fenomenal CD de testes do Hugo (tenho as músicas mas não estou com o nome do CD – fico devendo essa por enquanto!) era um holofote na organicidade do Meier. Comparando os dois amplificadores, eram como duas pessoas distintas cantando. No alemão, era uma pessoa muito mais humana. No chinês, era mais estéril e distante.

Devo dizer que acredito fortemente na sinergia nesse caso, e acho que a clara superioridade do Eartube se deu nesse set particular – e no do K1000. Mas, possivelmente, com fones mais naturalmente quentes e fechados, como por exemplo o Sennheiser HD650, seria mais complicado. Nesses casos, o detalhamento e a transparência maior do MKVI, arrisco dizer, seriam muito bem-vindas.

 

AKG K702 + Burson Audio HA-160D + EMM Labs Meitner Design CDSA

Burson Audio HA-160D

Burson Audio HA-160D

O Burson Audio HA-160D é um amplificador com DAC, e o intuito desse teste foi comparar o CDSA com o DAC do Burson. Usamos o próprio Burson como amplificador tanto de seu próprio DAC, quanto do CD player.

Fiquei impressionado com a performance do Burson. Num primeiro momento, nem eu e nem o Hugo conseguimos distinguir o que ouvíamos do seu DAC e do CDSA. Era virtualmente igual. A tonalidade parecia ser exatamente a mesma, sem tirar nem colocar nada. No entanto, ouvindo com mais atenção e após um tempo, conseguimos achar a grande vantagem do CDSA: apesar de o equilíbrio tonal ser o mesmo, o CD player ganha na apresentação. Ele cria uma imagem mais convincente da música, com uma melhor renderização do espaço e do tamanho dos instrumentos. A tridimensionalidade é muito mais evidente, enquanto o Burson é mais achatado e bidimensional. Um saxofone, por exemplo, é mais chato e sem vida no HA-160D. No EMM Labs, ele ganha vida.

O HA-160D realmente impressionou, já que custa quase 8 vezes menos que o Meitner. Em compensação, sei que usamos um fone revelador mas sem uma capacidade excepcional de resolução. Talvez, se repetíssemos o teste com algo do calibre de o Sennheiser HD800 ou ainda com um sistema de caixas high-end, o resultado tivesse sido diferente. Porém, no final das contas, foi difícil não ficar impressionado.

 

Sennheiser HD595 + Benchmark DAC1 USB (usado apenas como amplificador) + EMM Labs Meitner Design CDSA

Não fui exatamente fã do 595 na primeira vez que o ouvi – achei agressivo e excessivamente “forward”. Dessa vez, foi diferente. Encontrei uma sonoridade surpreendemente doce, e o famoso “Sennheiser Veil”, que me irritou no HD650, foi motivo de encanto e relaxamento. Fiquei surpreso com o que ouvi, e considerando que o 595 não precisa de sistemas muito pretenciosos, seria definitivamente um fone a se considerar para ouvir música casualmente no computador ou em viagens – com muito conforto, diga-se de passagem.

 

AKG K702 + Burson Audio HA-160D/Cambridge Audio DacMagic + Little Dot MKVI

DSC01158Esse teste não foi feito no encontro, mas achei que seria uma boa ideia postar aqui de qualquer forma. Infelizmente acabei não tendo tempo de comparar o DAC do Burson ao do DacMagic, e nem a amplificação isolada do Burson ao MKVI. Então comparei o Burson com seu próprio DAC ao Little Dot com o DacMagic.

Ao contrário do que eu esperava, o Burson soa mais “valvulado” e quente que o Little Dot, que é mais frio e detalhista. Definitivamente não é o que eu esperava comparando um valvulado a um estado sólido! O HA-160D é muito macio, com agudos mais recuados, mas sem perder corpo, brilho e timbre. Sou um pouco chato com agudos, acho fácil errar a tonalidade deles, e não fiquei decepcionado. Em compensação, os graves eram mais tímidos e com menos impacto. O detalhamento também era menor, mas não acho que isso seja uma desvantagem, já que é mais doce e fechado que o chinês. Assim como na comparação com o Meier, é uma questão de sinergia. A resolução, no entanto, ficou devendo ao MKVI.

Essas foram as minhas impressões. Gostaria novamente de agradecer ao Hugo pela hospitalidade e por um fantástico fim de tarde! Esse post fica, aliás, como uma prévia do encontro que está por vir, em São Paulo, e que vai reunir um grupo realmente incrível de equipamentos – e, mais importante, de pessoas!

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