INTRODUÇÃO
Já pude ouvir alguns sistemas com caixas da Bowers & Wilkins – famosa marca britânica de equipamentos deáudio, conhecida por ter sua marca estampada nas caixas usadas pelos estúdios Abbey Road. Já testei as torres 603 e 803S e as bookshelves 805S e as novíssimas 805D. Ainda era muito iniciante quando ouvi as maiores, mas quando tive contato com as books, tive uma mesma impressão: era como se houvesse algo a mais nos médios que me passava a sensação de alguma coisa que não permitia que os sons saíssem perfeitamente limpos e livres. Era como se o som apresentasse uma camada de gordura. Não é fácil explicar, mas como ouvi essas caixas em sistemas e ocasiões diferentes, presumi que essa coloração era proveniente das caixas. Essa característica definitivamente me incomodou, já que, por causa disso, elas não me pareceram neutras o suficiente. Curiosamente, é exatamente essa característica que me encantou no P5.
Ele representa a entrada da B&W no mercado de fones de ouvido. É interessante notar que a marca decidiu fazer essa entrada em sua divisão de consumo em massa (onde se encontram os docks de iPod Zeppelin), e não na divisão high-end de caixas de som de alto nível. Assim, ele é fone portátil, fechado, destinado ao uso com players portáteis, sem pretensões de ser um fone de referência. Para alguns isso pode ser uma decepção, já que certamente a B&W tem pedigree suficiente para criar equipamentos incríveis – vide as 800D e as chocantes Nautilus.
ASPECTOS FÍSICOS
Se o que você procura é luxo, esse é o fone perfeito. A qualidade de construção e acabamento do P5 são irrepreensíveis; nenhuma parte visível do fone é plástico. O usuário só tem contato com couro, metal, tecido e borracha. Afirmo que fisicamente ele não deve nada ao Stax SR-007, que logo após o Orpheus é o fone mais bem construído que já vi.
É um misto interessante de retrô e modernidade. Não tenho do que reclamar – na minha opinião é um fone lindo, e com certeza um dos mais confortáveis que já usei. Exercem a pressão ideal nos ouvidos e a headband é extremamente acolchoada. Outra questão interessante é que ele é o supra-aural que mais isola que já usei. Só não digo que é o full-size que mais isola porque esse posto pertence ao Bose Triport (uma porcaria, mas o isolamento é excelente). Os pads são muito grossos, e quanto em contato com os ouvidos, a pressão faz com que a espuma se molde aos ouvidos e, como consequência, a atenuação de ruídos externos é excelente. Logicamente, não é comparável à de um intra-auricular, mas para um fone dessa categoria, é surpreendente.
Os pads, aliás, são presos através de ímãs e removíveis, dando acesso ao mecanismo para a troca do cabo, que é muito simples e direto. O P5 inclusive vem com dois, um normal e outro com microfone e controle de volume, o que reforça a proposta do fone. Um problema, no entanto, é que o cabo é preocupantemente fino. Acho que para o uso fora de casa essa é de certa forma uma vantagem, já que não há desconforto pelo tamanho ou extensão dele. Mas não há dúvidas de que eles não inspiram confiança. Espero que a B&W tenha aprendido com a Bang & Olufsen e seus cabos ultra finos mas indestrutíveis. (Aliás, em off, fica aqui um puro desabafo: marcas de cabos para instrumentos, vocês bem que podiam aprender, né? Nunca tive um cabo que durasse mais de um ano, e olha que cuido bem deles… e isso porque são mono e devem ter 0,5 cm. de espessura)
O P5 possui ajustes tanto no headband quanto nos earcups, que giram para que o fone se acomode melhor à cabeça do usuário e para que ele seja quardado dentro da capa para transporte – também muito luxuosa, diga-se de passagem. Só não é muito segura porque é de tecido, e protege somente de sujeira, e não de choques.
Sobre aspectos físicos, o P5 é realmente de outro mundo.
O SOM
Sempre fui uma pessoa que priorizou fidelidade acima de tudo. Mesmo que com o tempo a gente aprenda que é praticamente impossível precisar um único neutro absoluto, sempre achei que, caso algo não soasse relativamente neutro para mim – mesmo que seja um neutro diferente, por exemplo, considero tanto o SR-007 quanto o HD800 neutros, e eles são muito diferentes, em alguns casos até opostos –, eu não iria gostar. Até me encantar com o P5…
Ele é decididamente colorido, mas o interessante é que essa coloração soa analógica. É como se qualquer coisa que passa pelo fone fosse equalizada por um set de vinil. Não que vinis não consigam soar neutros, mas eles naturalmente possuem um calor a mais, e é isso que o B&W faz. Adiciona uma pitada (ou será uma colher de sopa?) analógica à música. Aprovar essa característica é puramente uma questão de gosto. Para mim, depende da música e do momento. Não acho que exista algum gênero que soe persistentemente impróprio com essa coloração. Não é sempre que ela é totalmente bem vinda mas, no momento certo e com a música certa, esse fone é espetacular. Ouvindo Fredrika Stahl ou Diana Krall por exemplo, esse calor extra faz milagres, torna a música muito mais intimista e o resultado final é delicioso. É realmente encantador. Esse intimismo também é visto no palco sonoro, que definitivamente não é ruim para um supra-aural fechado, mas que é mais próximo do que um fone aberto. A sensação não é a de que falta espaço pra respirar – é que você está mais perto da música.
Existe algo fantástico a respeito dos médios. É como se houvesse a mesma gordura das caixas, mas de alguma forma, no fone ela me agrada. Ao invés de estar no caminho da música, ela contribui para que a música seja mais doce, principalmente com obras de jazz e pop.
No entanto, o maior trunfo do P5, na minha opinião, está nos agudos. São incrivelmente gentis e se apresentam numa quantidade que, apesar de para os meus ouvidos não ser exatamente neutra, contribui para o caráter confortável da assinatura sonora do fone. A fadiga auditiva é literalmente inexistente. O timbre dos agudos também é exemplar. Parece que o roll-off, que é audível, dá uma característica “arredondada” aos agudos. É como quando um baterista bate gentilmente no centro de um splash. O som agudo está lá, bem definido, e claro, mas delicado e sem as “rough edges” (perdoem-me o inglês, mas não consigo pensar em algo que traduza melhor o que quero expressar) ou granulação de qualquer tipo.
Quanto aos graves, não tenho tantos elogios. Primeiramente, acho que são um pouco excessivos. Não são obstrusivos, mas o famoso mid-bass hump é acentuado, o que reforça a posição do P5 no mercado – ele não é um fone de referência, mas sim um que visa agradar às massas além (ao invés?) dos audiófilos. Acho que essa é minha maior reclamação. Com música eletrônica por exemplo, em alguns casos me incomoda, e falta definição e textura. Aqui, a gordura também é presente mas é indesejável. Ao mesmo tempo, é possível que esse boost nos graves exista para compensar os ruídos externos, já que o fone foi feito para o uso fora de casa.
E já que estou falando de defeitos, devo dizer que existe outro muito significativo. Apesar de considerá-los excelentes com boa parte dos gêneros musicais, existe um outro tipo de coloração nos médios que me desagrada. Acho que não é relacionada ao calor sobre o qual falei antes, mas quando ouço rock por exemplo, parece que na região média dos médios há algo errado, o que não permite que eu considere o P5 um bom fone para esse gênero. É possível ouvir, mas não acho que é algo que ele faça bem, já que esse defeito afeta fortemente o que seria outrora um excelente equilíbrio tonal. Não é o suficiente para que eu considere o equilíbrio do fone ruim, mas ao mesmo tempo não é incrível. Essa falha não parece se manifestar com músicas sem atividade numa faixa muito extensa de frequências – inclusive, se eliminar esse defeito significasse abrir mão da doçura e do calor do P5 com outros estilos, eu não faria essa troca. É um preço a se pagar. O mesmo a respeito do detalhamento – ele não é dos melhores, mas isso para mim não importa. A musicalidade é a prioridade, e não a análise fria e objetiva da música.
CONCLUSÕES
Não tenho medo de dizer que adoro o B&W P5. Em aspectos técnicos ele definitivamente não é perfeito, já que passa muito longe da neutralidade e da referência. Ele tem uma voz própria e, não sei bem como, é capaz de tornar qualquer música analógica, o que pode ser o que muitos procuram. Mas sei que não é para todos. Pessoalmente, admito que não o teria como meu único fone, mas tenho me visto usando esse fone frequentemente. Admito que não é somente pela qualidade de som. É também pelo conforto, pelo luxo e pela beleza do P5.
É curioso. Me parece que alguns fones conquistam porque te mostram a música passivamente, com muita elegância, equidistante de você e da música. Já o P5 encanta porque não fica à mesma distância de você e da música. Ele pega um ferro de passar roupas, passa na música do jeito dele e senta do seu lado para ouví-la com você.
Ficha Técnica
Bowers & Wilkins P5 – US$ 299,99
Driver dinâmico único
Sensibilidade (1V): 115dB
Impedância (1kHz): 26 ohms
Resposta de frequências: 10Hz – 20kHz
Equipamentos associados:
iPod Classic