INTRODUÇÃO
O Sennheiser IE8 e o Shure SE530 pertencem à categoria dos IEMs universais topo de linha, mas seguem caminhos bem diferentes. Enquanto este possui três drivers de armadura balanceada e um crossover de duas vias, aquele é um fone dinâmico.
São fones bem diferentes em questão de som. É complicado escolher um entre os dois porque cada um se destaca em certas características, e consequentemente trata-se de uma questão de preferência e de combinação com os estilos musicais que se ouve.
O SE530 foi minha introdução aos fones de ouvido realmente bons. Comecei a jornada com um Bang & Olufsen A8 – que hoje me agrada muito mas na época não me satisfez –, depois veio um Bose IEM – subwoofer nos ouvidos sem nenhum traço de definição e clareza –, seguido por um Ultimate Ears Super.fi 3 Studio – outro que não me satisfez mas hoje considero um excelente fone –, e então um Denon C551 – um bom fone, mas um pouco frio.
Como não ficava satisfeito com nenhum desses fones, resolvi investir um pouco mais e pegar um fone que, na época, era um dos melhores IEMs universais: o Shure SE530. Depois de mais de um ano com ele, queria testar uma nova sonoridade, e resolvi comprar o Sennheiser IE8, que na época era lançamento e estava impressionando os head-fiers com seu palco sonoro fantástico para um IEM.
ASPECTOS FÍSICOS
O SE530 vem num pacote muito bonito. É uma caixa de alumínio prata com a tampa, também de alumínio, preta. Vem com várias ponteiras, incluindo umas de espuma bem interessantes, o PTH, uma caixinha para guardar o fone de nylon balístico, dois extensores de tamanhos diferentes, um removedor de cêra e um controle de volume para colocar entre o fone e a fonte.
O PTH é uma adição interessante que agrega valor ao produto, mas, no mundo real, é inútil. O objetivo é ter um aparelho entre o fone e a fonte que permite que, no aperto de um botão, a música seja atenuada e um microfone seja ligado, para que o usuário possa conversar com alguém sem a necessidade de retirar o fone. A ideia seria interessante não fosse o tamanho do PTH. Não consigo imaginar como carregar aquilo pode ser mais conveniente do que simplesmente tirar o fone dos ouvidos na hora de conversar com alguém.
Sendo sincero, a qualidade de construção Shure não me impressiona. Vindo do A8 e do C551, ambos de metal com uma excelente qualidade de construção e acabamento, se deparar com um produto custando três vezes mais feito de plástico e com um acabamento somente satisfatório é uma certa decepção… talvez eu esteja exigindo demais, mas pelo preço, esperava um pouco mais de esmero na qualidade do fone. É satisfatório, mas só isso.
Um grande problema no Shure são os cabos. São grossos e transmitem muita microfonia, principalmente porque ele tem a parte em Y separada do cabo que liga à fonte, e essa ligação é grande e pesada, então fica batendo no peito e transmitindo aquela microfonia indesejada para o fone, que fica com o cabo esticado, já que o conector é pesado. Mas o pior não é isso. Um cabo desse tipo dá a impressão de ser robusto, certo? Não é o caso. Após um ano de cuidadoso uso diário, o cabo se rompeu em ambos os lados, na parte que fica em cima da orelha. Como ainda estava na garantia troquei o fone, mas é muito ruim saber que ele tem “validade” já que o cabo não é removível.
O Shure também não é, para mim, confortável. Ele isola extremamente bem, principalmente com as ponteiras de espuma, mas é como se ele exercesse uma pressão forte nos meus ouvidos, o que me incomoda bastante; não consigo usá-lo por muito tempo. Acho que isso é um problema meu e incomoda no meu caso particular, já quejá vi muitos citarem o conforto como um dos pontos fortes do SE530. O isolamento é unanimidade, fantástico. Porém, eu facilmente trocaria esseisolamento por um maior conforto.
O Sennheiser vem numa caixa um pouco mais modesta que a do Shure, mas muito bem feita e planejada. Vem com os mesmos acessórios exceto pelo controle de volume, o PTH e os cabos – só vem com um em tamanho único. A caixa para guardar o fone é bem diferente, é quadrada, de plástico, com “placas” dos dois lados de metal. Dentro tem espaço pro fone, dois pares de ponteiras (sabe-se lá para quê alguém precisa levar mais dois pares por aí… uso compartilhado?) e um daqueles sachês de silicone para tirar a umidade. Meio exagerado talvez mas bem pensado e dá uma impressão de ser um produto de qualidade.
A qualidade de construção do fone em si é muito boa, de plástico também, mas de melhor qualidade que o Shure, transmite mais solidez. O cabo, felizmente removível, é fino e discreto, e pelo que parece, resistente. Muitas pessoas acham o IE8 desconfortável ou não conseguem um bom selo com ele. Dei muita sorte, nos meus ouvidos é como uma luva. As ponteiras ficam na medida, tapando os ouvidos mas não exercendo a pressão que tanto me incomoda no Shure. Em compensação, ele isola menos. Conforto é muito pessoal, esse é meu caso particular.
O SOM
Resumidamente, o SE530 tem um som muito doce, cheio mas “educado”, relaxado e agradável. Já o IE8 é mais cheio, mais preciso e meio que demanda mais atenção, como se ele te forçasse a prestar atenção na música. O que é melhor vai do gosto de cada um. De modo geral, não considero nenhum dos dois equilibrados. O Sennheiser é extremamente exagerado nos graves e o Shure peca pela pronúncia exagerada dos médios e pela falta de agudos.
Nesse quesito, aliás, a princípio o Shure me agradou bastante porque os agudos são menos evidentes que os do Denon, que me incomodavam, mas eram presentes e bem definidos. Hoje em dia, acostumado com o IE8 acho que o SE530 é meio sombrio já que existe uma ênfase enorme nos médios e os agudos são muito mais recuados do que no IE8. Dependendo do CD eles ficam suficientes, por exemplo, no The Resistance do Muse, que destaca os agudos, o Shure se comporta muito bem. Mas essas gravações são casos particulares, e em boa parte das músicas que ouço sinto uma carência de detalhes e transparências por causa dessa característica.
Já o Sennheiser possui agudos bem mais pronunciados, o que dá a ele um caráter mais analítico (ele evidencia fontes ruins muito mais que o SE530), mas sem perder o calor, apesar de ser um pouco mais frio que o Shure. Ouvir os pratos da It Could Happen to You da Diana Krall é fantástico! Definidos e presentes, não sendo agressivos. Em questão de agudos prefiro o Sennheiser, mas em alguns CDs (como nesse do Muse, no Damnation do Opeth ou no Poema do Êxtase do Scriabin conduzido pelo Svetlanov) eles podem ficar exagerados. No Little Dot o IE8 fica ótimo, já que as válvulas dão uma amaciada nos agudos.
Nos médios, o SE530 mostra sua melhor característica. São simplesmente fantásticos, têm uma liquidez maravilhosa mas nunca perdendo a definição. Guitarras de rock soam maravilhosas – destaque para o Sci-Fi Crimes do Chevelle e para o Six Degrees of Inner Turbulence do Dream Theater –, assim como vocais bem gravados – Tributaries da Fredrika Stahl é um exemplo. Uma questão é que ele é um fone prioriza “amaciar” a música mais do que mostrar o que realmente está gravado (fato ampliado pelo leve recuo dos agudos), o que nem todos podem apreciar.
No entanto, é importante notar que os médios são exageradamente pronunciados e, apesar de eu gostar dessa características em determinados estilos, entendo que muitos podem achar insuportável. Em muitos casos, a sensação que dá é a de que o cantor está gritando nos seus ouvidos. Há quem ame essa característica – afinal é tradição nos IEMs Shure –, mas há quem odeie. Fico no meio do caminho, mas de modo geral gosto muito dos médios do SE530.
Um problema do Shure é que a imagem dele é muito pior que a do IE8. O Sennheiser apresenta um palco muito bem definido, com bastante ambiência entre os instrumentos e define um ambiente inteiro, de certa forma dentro da cabeça, mas com muito mais definição, recorte e arejamento. Por exemplo, o CD From This Moment On da Diana Krall mostra um ambiente fantástico, assim como a música Sprout and The Bean da Joanna Newson, que apresenta uma espacialidade impressionante da voz e da harpa.
Essa ambiência não é comparável ao de um bom fone full-size porque não apresenta a forte sensação de abertura que eles proporcionam e portanto o palco não é tão convincente; mas é, sem dúvida, impressionante para um IEM. É como se houvesse duas bolinhas para fora de cada ouvido e uma logo à frente do nariz – com uma certa ligação entre elas, não tão bem feita mas evidente.
Já o Shure projeta uma imagem para dentro da cabeça, sem capacidade de criar uma imagem precisa. Ouvindo um bom jazz ou uma orquestra isso faz muita falta no SE530. É como se ele tivesse, ao invés das “bolinhas” do IE8, três placas que emitem som.
Em compensação, enquanto o IE8 é maravilhoso nessa projeção, gostaria muito de ter os médios um pouco mais quentes, como o do Shure, nele. Não é uma coisa que faça tanta falta, mas seria uma adição bem vinda. Por exemplo, muitas vezes ouvindo rock ou metal, estilos que ocupam uma gama bem extensa de frequências, o IE8 mostra a sua ênfase nos graves e nos agudos e me deixa desejando um pouco mais das guitarras, que muitas vezes acabam sendo um pouco encobertas pelos pratos da bateria.
Em relação aos agudos é difícil escolher um deles, o que eu quero varia muito de estilo para estilo. Para rock, acho que escolheria o Shure já que salvo algumas excessões não é um estilo que exige muita espacialidade, e como para rock os médios são imprescindíveis, o SE530 leva a melhor.
Um detalhe: uma coisa que gosto de fazer é ligar o Shure no 340A SE e aumentar um pouco os graves e colocar os agudos no máximo. Desse jeito mantém-se a excelente resposta de médios, adiciona-se corpo com o aumento dos graves e aquele brilho com o dos agudos – mas perde-se um pouco da “educação” do fone. Desse jeito, a única coisa que fica faltando é a imagem fantástica do IE8.
Nos graves, as coisas complicam. O Shure desde o início deixou um pouco a desejar no quesito graves, agravado pelo fato de os médios serem muito pronunciados; ele acaba ficando sem tanto vigor, principalmente no iPod, que tem um som mais relaxado. Os graves estão lá, mas sem tanta presença.
Já o IE8 é o oposto, possui graves incrivelmente exagerados, apesar de mostrarem uma definição acima da média para fones com essa característica e, até certo ponto, de não encobrirem tanto o resto do espectro. Comparados aos do Shure, é como se o punch seco estivesse ali, mas com uma grande “nuvem” em volta, o que faz ele ficar mais solto e não tão seco e preciso. Esse exagero nos graves é o maior defeito do IE8. Pode ser bem vindo para verdadeiros bass-heads ou em algumas músicas eletrônicas, mas é excessivo – se o Shure peca pela leve falta, o Sennheiser peca pelo grande excesso. Essa característica se faz muito evidente quando o ligo no Little Dot, que possui naturalmente mais graves que o iPod Classic. Um detalhe é que, o que eu fazia era usar o IE8 no iPod com a equalização em Bass Reducer, o que reduzia significativamente a resposta de graves dele e o tornava um fone muito agradável.
No quesito graves, fico facilmente com o Shure. Apesar de os médios chamarem a atenção e me fazer pedir um pouquinho mais de graves, essa falta se torna apenas um detalhe perto do grande exagero do Sennheiser. Um detalhe é aquela equalização do IE8 no próprio fone, que acho inútil 95% das vezes visto que na posição mínima o grave já é excessivo e, para completar, a diferença é significativa mas não gritante. A única ressalva é que ouvir músicas com graves extremos – no sentido de estarem numa oitava muito baixa, não de o volume deles ser alto – é emocionante no Sennheiser e gosto, na música Midnight Runner do Pendulum, por exemplo, de aumentar a equalização para poder ouvir os graves em 1:41. Outra música em que isso acontece é na Toccata do Widor por volta de 3:00: é como se vc sentisse seu corpo tremer com os pedais inacreditavelmente graves do órgão. Fora essas pouquíssimas exceções (não mais de 5 músicas na minha coleção de 13.000), o IE8 extrapola nos graves enquanto eles estão um pouco em falta no SE530.
Como disse na parte dos médios, gosto de colocar os graves no amplificador perto do máximo e usar o Shure. O que acontece é que a resposta de graves fica o que considero ideal: seca e rápida, aquele típico ataque de um bumbo abafado com travesseiro ou cobertor dentro. Essa, aliás, na minha experiência se mostrou uma diferença recorrente entre IEMs de armadura balanceada e dinâmicos: enquanto este tem mais impacto, aquele tem mais textura e definição. A Everytime We Touch (Inpetto Remix) do David Guetta mostra muito bem como os graves do Shure ficam secos e controlados.
CONCLUSÕES
O IE8 tem como pontos fortes os agudos cristalinos, a projeção espacial da música, o detalhamento e a transparência. Seus pontos fracos são o excesso de graves em praticamente todos os estilos musicais e a falta de calor e liquidez nos médios em relação ao Shure. Acho que o IE8 é mais neutro, mas tendo passado tanto tempo ouvindo exclusivamente o SE530, esse calor faz falta no Sennheiser.
Já o SE530 possui médios excelentes e um som agradável, mas geralmente falta um pouco de agudos e a projeção espacial dele é muito inferior à do IE8. Além disso, ele poderia ter mais um pouquinho de graves.
Escolher entre um e outro acaba sendo uma questão de gosto pessoal. Nenhum dos dois é perfeito, mas cada um apresenta uma personalidade própria com defeitos e virtudes, que podem vir a agradar alguns e decepcionar outros. O importante é saber julgar a personalidade que mais agrada para então fazer uma boa escolha.
Hoje em dia, pelo que vejo, existem opções mais equilibradas de IEMs no mercado, e para os que preferem um som mais neutro, são mais recomendados. Alguns exemplos são o Westone UM3X e o EarSonics SM3. No entanto, caso alguma das características do Shure e do IE8 se mostrem um grande atrativo para o ouvinte, certamente serão boas escolhas que proporcionarão muitos momentos de boas audições.
Ficha Técnica:
Shure SE530 PTH – US$ 460,00
- Drivers triplos de armadura balanceada com crossover de duas vias
- Sensibilidade (1mW): 119 dB SPL/mW
- Impedância (1kHz): 36
- Resposta de Frequências: 18Hz – 19kHz
Sennheiser IE8 – US$ 400,00
- Driver dinâmico único
- Sensibilidade (1mW): 125 dB SPL/mW
- Impedância: 16
- Resposta de Frequências: 10Hz – 20kHz
Equipamentos Associados:
iPod Classic, iMac, Cambridge Audio DacMagic, Cambridge Audio 340A SE, Little Dot MKIII.